Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

domingo, 30 de dezembro de 2012

Momentos IV

Mostrando à flaminga a minha maquilhagem de Natal: - Gostas, flaminga? Diz ela após observação, de semblante imperscrutável - Pareces a filha dos monstros do filme que eu vi...

sábado, 29 de dezembro de 2012

E para acabar o ano em beleza...

...eis que chega a amiga gripe!!
Ao menos que a despache em 2012... :P
Bom último dia do ano para todos.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Foi Natal, foi Natal...

...já foi. Por aqui época de muita correria de casa em casa, com muita gente em cada uma. É sempre uma animação, sobretudo para as crianças, e entre essas para as mais novas, para quem tudo tem ar de novidade e andam numa excitação louca nestes dias.
Este ano na véspera de Natal, com parte da família, não houve prendas (só da família mais directa, que combinou presentear-se no dia seguinte, com outra parte da família). Tenho confessar que fiquei orgulhosa dos filhotes, por não terem reivindicado prendas nessa noite.
Foi um Natal tranquilo, alegre, de convívio. No fundo, aquilo que o Natal deve ser. By the way, antes da chegada da religião católica, já os romanos celebravam as festas saturninas, em honra de Saturno, que celebravam o "fim das trevas", ou seja, o crescimento dos dias a partir do solstício de Inverno. Para além das oferendas aos deuses, diz-se que nestas festividades pagãs também se fazia troca de prendas... Não se mudou muito mais que o nome, afinal... E não é preciso afirmar-se católico quem festeja o Natal, nem é uma festa só de católicos, são sim festejos cuja génese se perdeu no tempo...

domingo, 23 de dezembro de 2012

Momentos III

Futebolista: -Mãe, ainda bem que começaste a namorar com o pai! Senão eu não existia nem tinha Natal!

sábado, 22 de dezembro de 2012

Recomendo, sobre Isabel Jonet e...moralismo, não, obrigada!

Não contava em escrever sobre esta pseudo-polémica, até porque acho que já se escreveu demais, mas não posso deixar de referir o texto do Daniel Oliveira sobre o tema. Isto porque praticamente traduz o meu pensamento sobre o assunto, e se tivesse que o fazer, este era o texto que eu gostaria de ter escrito.

http://expresso.sapo.pt/isabel-jonet-a-caridade-e-a-solidariedade=f774919

Acima de tudo, e penso que esta deve ser uma opinião partilhada por muitos, estou farta, farta, farta dos discursos moralistas com que estamos constantemente a ser bombardeados. É assim, não acho que tenha muitas lições de moral a receber destes pregadores de praça pública. Viver acima das possibilidades? Quem diz isso sabe o que realmente se passa na vida e na casa de cada um? Os idosos de pensões miseráveis que não têm capacidade de pagar os medicamentos de que necessitam vivem acima das suas possibilidades? Os pais que não têm capacidade de alimentar devidamente os filhos vivem acima das suas possibilidades? Pois ainda bem, quer dizer que conseguiram um pouco mais do que a miséria lhes proporcionou. E as instituições bancárias que andaram a impingir facilidades e créditos a todo o Portugal, quantas vezes não mais correctamente designadas por publicidade enganosa, e a prometer amanhãs que cantam a quem não tinha nem podia possuir a cultura económica que lhes permitisse aperceber do logro? Já foi medida a sua responsabilidade nesta vivência acima das possibilidades?
Tantos exemplos de discursos moralistas de quem tem tão baixa moral (e agora não estou aqui a incluir a Isabel Jonet, embora também dispense os seus moralismos). Tentem não cair demasiado no ridículo...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Momentos II

Ursinho, já depois das histórias lidas, quer levar o livro para cama (volta atrás para o apanhar); depois não quer (volta atrás para o deixar); depois quer (volta atrás para o apanhar). -Já chega, estás-te a portar mal!, digo eu, enquanto o levo ao colo para a cama. - És feia! (diz o ursinho). - E tu, o que és?, pergunto eu. Ele faz um compasso de espera, pensativo, e finalmente responde.  - Feio!

domingo, 16 de dezembro de 2012

Viagem... literária ao Japão das gueixas

Hoje tive o raro privilégio de ter uma ou duas horitas só com o ursinho cá em casa (a dormir) e em parte do tempo pude deleitar-me no sofá a ler um livro, mais que os 10 minutos habituais ao deitar. Aqui há uns anos atrás passava horas seguidas a ler e era tão, tão bom. Hoje foi óptimo aquele bocadinho.
A minha actual viagem literária são as "Memórias de uma gueixa". Já tinha o livro em casa há um tempo (acho que nem é meu) e não me despertava interesse por aí além. Mas após acabar o "Sidereus Nuncius" achei que era tempo de algo mais ligeiro e lá embarquei nesta viagem. Está já perto do fim e é interessante saber mais sobre as gueixas, efectivamente. O Japão (e essa zona do globo, em geral) é realmente algo de muito diferente da nossa cultura. As cabeças das suas gentes estão arrumadas de forma muito diferente e olham para tudo de maneira diferente, sem sombra de dúvida que é assim. E há que ceder à tentação da comparação constante e de se achar que "aquilo não faz sentido". Há muito tempo lembro-me de um professor numa aula dizer que "o europeu era essencialmente pragmático e individualista; ao ser-lhe posta uma questão o seu instinto levava-o a responder logo negativa ou afirmativamente e seguidamente apresentar a sua justificação. O asiático ponderava cuidadosamente os prós e contras e salientava desvantagens e vantagens. Não era para ele muito relevante mencionar acordo ou desacordo mas as correntes contrárias em jogo. Ao observar as minhas próprias reacções identifiquei-me 100% europeia. Por todas as razões, só me fará bem mais informação sobre outras culturas! Sem perder a identidade, ganhar em compreensão.
Ora sobre este universo das gueixas, é difícil abstrair-me do facto nu e cru de que se tratavam de crianças que desde de tenra idade eram treinadas para "entreter" homens e viver mais tarde à sua custa; não muito diferente de "alta" prostituição (embora num universo mais amplo e complexo). Não pretendo ofender a cultura e não é com preconceito que faço esta afirmação; mas é inegável o paralelismo à luz da nossa cultura...
Mas pensando um pouco mais a fundo, na verdade não é isso que é mais relevante. Num sentido lato, na nossa cultura não há tantas mulheres a viver à custa de homens, ou tentando às suas custas obter muitas vantagens? Claro que sim.
O âmago da questão é que este universo das gueixas é mais um testemunho da subjugação feminina e da masculinização da sociedade, mais uma marca da exploração profunda sofrida pelas mulheres, em tantas épocas, em tantos países. Porque terão as sociedades evoluído assim? É o Homem (a humanidade, homem e mulher!) incapaz de se organizar sem tiranizar? E porque foram as mulheres objecto privilegiado desta tirania mundo fora, séculos fora? Que feridas e cicatrizes (psicológicas, e profundas) guardam ainda as sociedades ditas desenvolvidas (já para não falar nas outras) cujos frios indicadores matemáticos confirmam desde há tempo a igualdade entre sexos?

sábado, 15 de dezembro de 2012

Viagem... ao universo das armas

É um tema muito pouco natalício, é certo. Mas estes crimes sem sentido e direccionados a pessoas completamente inocentes impressionam-me sempre como se fosse a primeira vez que ouvisse falar deles. É evidente que o mundo está cheio de crimes contra inocentes,e tanto, tanto se poderia dizer sobre isso.
Mas aqui e agora refiro-me ao que ontem aconteceu nos Estados Unidos, uma vez mais, que tem pelos vistos a maior taxa de loucos que têm armas e que escolhem criteriosamente locais e vítimas que não poderiam ser mais alheios ao que o destino lhes traçou.
São pessoas que só podem ser profundamente desequilibradas. Mas como se pode argumentar que possuir armas é um direito e uma liberdade (pasme-se, nalguns Estados dos EUA a única restrição é... que só se pode comprar uma arma(!) por mês) quando os loucos varridos têm tanta facilidade em obtê-las e em assassinar inocentes em barda? E o direito dos pais a terem os filhos seguros numa escola, onde fica?
Odeio armas e, embora seja geralmente um pouco avessa a proibições radicais (que muito frequentemente trazem consequências perversas), não vejo nenhuma boa razão para um cidadão poder adquirir armas (com as excepções profissionais óbvias). E mesmo os que possuem armas de caça deviam ser sujeitos a rigorosos e frequentes avaliações do seu estado psicológico (e os profissionais, polícia, militares também!). É preciso morrerem muitas mais crianças (e outros inocentes) para se reverter esta estúpida e perigosa cultura das armas?


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Momentos I

Falando para ursinho, de 2 anos e meio, em tom já meio zangado: -Tens que deixar a mamã comer, se não a mamã fica doente!
Ele estende a mão até à minha testa: - Não tem, mamã, não tem!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Carta ao Pai Natal

Olá Pai Natal,
sabes, eu nunca me lembro de acreditar em ti. Sempre fui de poucas crenças. Mas assim como assim, mal não há-de fazer, e portanto deixo aqui umas sugestões se me quiseres presentear. Se não, também não faz mal, fica para uma próxima e eu percebo o castigo pela falta de crença. Que aliás também nunca inculquei muito nos miúdos.
Olha, eu gostava de manter a qualidade de vida que temos, dois a trabalhar cá em casa e os miúdos sem lhes faltar nada. E saúde, muita saúde. Isto é o principal.
Depois, e como não podemos ser pobres no pedir, junto mais umas coisinhas: gostava de conseguir dormir bem na maior parte das noites do ano, ou seja, que os miúdos durmam bem na maior parte das noites do ano. Gostava de ter uma dose extra de dinheiro e energia para voltar finalmente a fazer desporto. Gostava que a pobreza começasse a inverter no meu país e as pessoas começassem a ter uma vida mais decente. Gostava que uma série de gente de (e no) poder de lá saísse. Gostava que o rendimento desse para fazer uma viagem (como deve ser) e levar os miúdos. Gostava que o futebolista aprendesse a nadar. Gostava que a flaminga e o ursinho se mantivessem na mesma escola. Gostava de conseguir ser mais paciente. Gostava de continuar a ser feliz como sou.
Obrigada,
Viajante

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Da fúria

Porque será que às vezes se dá um clique... que desencadeia uma irritação tal que muito demora até que nos livremos dela? E que até passar qualquer pequena coisa contribui e alimenta o monstro, qual lenha atirada para a fogueira? Só me vem à cabeça a imagem de moléculas desvairadas a chocarem umas com as outras cá dentro, até a energia se acabar e finalmente ficarem quietinhas.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Um Natal diferente

Este foi o fim-de-semana de montagem da árvore de Natal. É sempre um momento de grande animação. Hábito importado ou não, é um bonito hábito e tem atravessado gerações. E que mal há em importar as boas tradições?
Este vai ser um Natal diferente. Mais austero e com mais preocupações na cabeça. Um Natal em que será bom que nos lembremos que o importante de facto é estarmos todos juntos, é estarmos todos aqui, e sentirmos que podemos contar uns com os outros. Para o que der e vier. Se nos abstrairmos das causas, este é um bom conceito a reter. E o conceito que eu gostaria que se fosse inculcando no futebolista, na flaminga e no ursinho.
O Natal é de facto aquilo que um homem (/mulher) quiser. O Natal é aquilo que nós quisermos. Respeitando todas as sensibilidades, talvez este conceito de Natal seja aquilo que há muito sinto que o Natal devia ser. Embora seja com angústia que assista ao que o motivou esta aproximação ao meu conceito.

sábado, 8 de dezembro de 2012

obrigada por 1000 leituras!

E os "Cadernos" atingiram as 1000 visualizações. Obrigada a todos os que têm partilhado estas viagens!
Venham mais 1000!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Da estação (do ano)



Porque será que quando somos atingidos pela gripe (ou algo do género) está-se mesmo bem é enroscado numa manta e a não fazer nada de nada, a não querer saber nada de nada…?
Será o corpo a dizer que quer o máximo de descanso para mandar fora os vírus e amigas bactérias? Será simplesmente porque as baterias estão low?
Já que tem que ser ao menos que seja assim, a olhar pela janela e a ver lá fora um dia invernoso como deve ser, a ouvir a chuva e o ruído familiar da máquina de lavar na divisão ao lado. Às vezes é bom que as coisas estejam arrumadinhas, cada uma no seu sítio (temporal): a gripe é (mesmo!) uma das tradições de outono/inverno.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

36 x 365,25 noites

E às minhas 36 x 365,25 noites recebo as 1001 noites... :)
Ahhh... tantas noites de leitura se perspectivam (os meus 10-15 minutos zen).
As minhas noites são mais claras do que eram, mais interrompidas do que eram, com mais preocupações do que tinham, mais felizes do que eram.
Pronta para mais 36 x 365,25 dias e noites, e felizes como estes foram. Obrigada a todos os que fazem os meus dias felizes.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Solução para o futuro

Para esta crise nunca ter acontecido, para esta crise não tornar a acontecer (mesmo que utopicamente, enfim...) eu acredito que a solução seja uma democracia mais participada. Se formos todos mais críticos e mais exigentes não nos contentaremos com planos(?) a 4 anos ao ritmo das eleições, arranjaremos (de certeza!) formas de pôr a corrupção a contas com a justiça, conseguiremos lutar e atingir uma sociedade mais justa. Pelo menos era assim que eu gostaria que as coisas evoluíssem, ou pelo menos que se encaminhassem. Gostaria (e acho que tenho esse direito) de opinar sobre muitas questões e decisões.
Agora... não é possível trilhar este caminho sem uma sociedade informada (e formada). Que não seja tão demagogicamente manipulada. Que não consiga distinguir questões técnicas de políticas. Que não entenda que a xico-espertice é um semear ventos para colher tempestades.
Só há uma maneira de lá chegar: escolaridade, escolaridade, escolaridade. Temos algumas estatísticas vergonhosas no contexto dos nossos parceiros europeus: literacia (cerca de 20% de analfabetos, e já não falando dos funcionais); de abandono escolar (30% não concluem a escolaridade obrigatória, atenção!! ainda da antiga, referimo-nos ao 9º ano). Não é preciso continuar.
Então agora, com este lindo palmarés, há quem se atreva a sugerir cobrar o ensino secundário obrigatório!?
Num país com carências profundas de formação?
Podem fazer as reformas todas e mais algumas, podem avaliar os professores e escolas a raios X, podem culpar os suspeitos do costume. A uma criança com fome não se pode exigir aprender.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Viagem às crateras da Lua... e às luas de Júpiter.

Sidereus nuncius ou o mensageiro das estrelas. Livro de Galileu Galilei publicado no século XVII. Espanto ou não, foi na altura um best-seller, tendo-se esgotado as edições impressas com incrível velocidade!
A tradução portuguesa, que foi a minha mais recente viagem literária, é um livro muito interessante, sob diversos aspectos. Podendo esfriar os ânimos à partida, o livro propriamente dito é precedido de uma descrição, de nº de páginas semelhante ao do referido livro, que enquadra e contextualiza as descobertas de Galileu. Mas essa secção é fundamental para o que se segue.
Que Galileu foi um dos maiores cientistas, porque não dizê-lo, da História da humanidade, não é propriamente uma novidade. Não deixa contudo de ser engraçado ver o detalhe e o método com que ele descreveu as suas descobertas, considerando que se passou no princípio do século XVII.
Mas o mais engraçado de tudo é que é mais um exemplo do quão parecidas eram as pessoas nascidas há 400 anos com as de hoje em dia!
Pois as descobertas do Galileu envolveram polémicas de quem afinal tinha descoberto (várias coisas) primeiro, trocas mútuas de galhardetes em ambiente académico, invejas e um laborioso trabalho de lobby para conseguir financiamento para fazer as suas pesquisas. Neste caso os mecenas eram os famosos Médici... de tal forma que os satélites de Júpiter foram baptizados de "estrelas mediceias".
Não faltam também "acusações", subtis ou nem por isso, de que Galileu poderia ter-se aproveitado de alguns dos seus "acólitos" no sentido de se ter apropriado de algumas descobertas.
Esta não é uma crónica de mal-dizer sobre o Galileu. Após a leitura, não sofreu para mim um beliscadura o grande génio que ele terá sido. E algo de espantoso é que a ânsia de descobrir "transpira" por todos os "poros" das páginas, o que só poderia vir de um grande cientista.
Mas tudo o resto... como são impressionantes as semelhanças com os dias de hoje... é caso para dizer que qualquer semelhança será mera coincidência... ou talvez não!! 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A comunidade



Depois de um post sobre introversão e introspecção nada como reflectir um pouco sobre… a vida em comunidade.
É muito possível que aquilo que eu vou escrever não seja assim em várias situações. As aldeias, sobretudo as mais isoladas, têm certamente uma vivência comunitária muito diferente. Haverá por certo vários exemplos pontuais que funcionam. Mas na generalidade a nossa vivência em comunidade (e quando digo nossa, refiro-me à população portuguesa urbana) é francamente deficitária. O que é uma comunidade? De uma forma geral, será um conjunto de indivíduos que habitam o mesmo local, que frequentam os mesmos locais, que têm as mesmas vivências. Certamente que estas comunidades continuam a existir. O que desapareceu (ou quase) foi um certo tipo de vivência comunitária. Estes grupos de indivíduos têm obviamente interesses comuns. A troca de informação, o debate e a decisão em comunidade são muito importantes para ter uma posição representativa (e representada) sobre muitos assuntos. O que move as iniciativas comunitárias são precisamente estes interesses e assuntos comuns. Contudo, não se deve olhar para a comunidade só como uma “união faz a força”. Com o debate de opiniões e ideias pode-se conseguir uma posição mais activa e mais eficaz sobre os problemas que atingem as várias comunidades.
É também importante que nos sintamos pertença de um grupo. Afinal, a maior parte dos nossos problemas são comuns e têm soluções comuns. Atenção: não precisamos de ser todos os melhores amigos. Mas é preciso compreender que a força de uma comunidade é maior que a da soma dos seus indivíduos. E que a sua razão de existir é (ou deve ser) o bem comum de todos os indivíduos que lhe pertencem. Há vários sinais que evidenciam que a presente crise tem despertado as pessoas para a importância desta vivência comunitária. Mas isso por si só não é um indicador de empobrecimento. Na realidade, as sociedades mais desenvolvidas (com menores contrastes sociais) têm um forte sentido comunitário. Aí não é vergonha nenhuma utilizar artigos em segunda mão e ter como base um sistema de trocas para suprir variadíssimas necessidades. Uma vivência comunitária mais intensa não é aceitar ou assumir uma posição de caridade, nem uma afirmação política. É tão só uma atitude de inteligência, racionalidade e declaração de interesse em intervir nos problemas que nos afectam.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Introvertido, extrovertido, ou a falta de solidão de qualidade

A propósito de um pequeno filme sobre o poder dos introvertidos... Concordo que os extrovertidos estão sobre-valorizados e que a educação e o mundo profissional estão concebidos, ou acontecem, sobretudo a pensar neles. Digo isto sem rancor - quem vir o dito filme vê que a maioria das pessoas se situa numa área intermédia deste eixo introvertido/extrovertido... e eu acho-me uma dessas pessoas.
Nós somos animais sociais e como tal conviver é uma parte fundamental do nosso mundo. Sem dúvida. Mas acho que temos muita falta de solidão de qualidade. De silêncio de qualidade. Atenção, não confundir com a solidão dolorosa... não é nada disso.
A introspecção e o nosso conhecimento interior é necessária para que possamos também melhor conhecer e compreender os outros. É bom estarmos connosco próprios. E às vezes faz-nos tanta falta.


sábado, 10 de novembro de 2012

O Mostrengo

Tive o prazer de ouvir hoje, numa sessão de teatro-stand-up-comedy-poesia para crianças. Que funcionou muitíssimo bem. Poderia escrever muita coisa sobre O Mostrengo, mas não vale a pena. Soaria banal. A força e a profundidade destas palavras saboreia-se muito melhor com a sua leitura. Boas noites, e não sonhem com

O Mostrengo

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,

E disse: "Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?"
E o homem do leme disse tremendo,

"El-Rei D. João Segundo!"
"De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?"
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso.
"Quem vem poder o que eu só posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?"

E o homem do leme tremeu, e disse:
"El-Rei D. João Segundo!"
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as repreendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:
"Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!"

Fernando Pessoa


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Também nós somos poeira de estrelas

Hoje era o aniversário do Carl Sagan. Dono de uma imaginação furiosa, contou-nos e encantou-nos com os seus sonhos e esperanças de viagens no espaço, de seres extra-terrestres e sim, na esperança de um mundo melhor onde o Homem revelasse o melhor de si. "Também nós somos poeira se estrelas" é uma frase de sua autoria, aqui traduzida para português, uma das frases mais bonitas deste universo ciência-divulgação, que vai até às nossas origens, que nos faz pertença de um grande ciclo, e que nos revela de onde vem o nosso brilho. Os divulgadores de ciência são muitas vezes tratados como o seu parente pobre; como se a ciência só fosse séria se só quem a faz a entenda. Felizmente que há jovens promissores cientistas que resolveram seguir essa via, que aceitaram o desafio de transmitir aquilo que afinal nos pode fazer sonhar com amanhãs mais felizes.
Parabéns Carl Sagan; fizeste mais por várias gerações de cientistas e de amantes da ciência e sua ficção que muitas aulas e artigos.  

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Viagens à roda de casa

Não sou uma dona de casa, não gosto de ser dona de casa, nunca serei uma dona de casa. A nossa casa é o nosso refúgio, onde sabe bem estar sozinho ou acompanhado, sentado no sofá ou no chão, a olhar pela janela ou a respirar fundo na varanda. Mas a vida não se resume à nossa casa, ar livre é absolutamente essencial! A cada canto vê-se o brilho do pó, há uma peça de roupa fora do lugar, um brinquedo que se põe sempre debaixo dos nossos pés, um bago de arroz ou um fio de massa aparecem nos locais mais impensáveis!
Não me interessam as técnicas de tirar nódoas, só quero saber das promoções por pura necessidade, desprezo as melhores marcas de detergentes, não quero comprar revistas de culinária nem de pedagogia, a roupa não precisa de ser passada a ferro, boas maneiras são essencialmente o respeito pelo próximo. O futebolista, a flaminga e o ursinho, juntamente com o Han Solo, são a minha mais profunda razão de ser e estar, o amor incondicional pelos filhotes é mesmo verdadeiro, mas o aquilo que verdadeiramente me interessa é estar com eles, falar com eles, brincar com eles, dar-lhes a mão nas suas descobertas, ou então não, se assim o não quiserem, disponibilizar o meu ombro para todas as ocasiões. É isso.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Viagens digitais

Concentrada a fazer a compilação de dados de vários concelhos do interior norte de Portugal, deparo-me com alguma familiaridade nos nomes das freguesias... Sim, efectivamente eram nomes que conhecia de ginjeira, mesmo de cor, tal como conhece de ginjeira dos nomes das estações de metro ou de comboio quem usualmente neles viaja...
No entanto, embora já tenha viajado algumas vezes para esta zona, não a conheço tão aprofundadamente de forma a saber tão bem os nomes das freguesias... Com algum esforço para chegar aos confins do cérebro lá encontrei a explicação: um trabalho que tinha feito poucos anos antes e que também incluia uma caracterização da região. É no que dá tantas viagens digitais...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Viagens para quando?



Estou sempre a pensar nos sítios onde gostava de ir. E a acrescentar novos locais a essa lista mental. A fazer correcções e alterações desde que apareceram o futebolista, a flaminga e o ursinho. A maior parte das viagens mais longas, e forçosamente de curta duração, têm sido apenas para mim e para o Han Solo, por um lado por razões de orçamento, por outro porque eles ainda são pequenitos para apreciarem determinados tipos de viagens. E ainda porque, vistas bem as coisas, são das poucas oportunidades para termos algum tempo de qualidade a dois.
Mas estou sempre a sonhar com sítios onde gostaria de ir com eles. A planear quando já estarão aptos para isso. Para ser agradável para nós e para eles.
Agora com toda esta crise generalizada, em que ninguém sabe até quando terá emprego, em que mentalmente muitos se preparam psicologicamente para apertar o cinto (ainda mais do que já foi apertado) às vezes dou por mim a pensar quando, mas quando conseguirei viajar com eles? E como?
Não deixa de ser estranho, uma espécie de construção de casa a partir do telhado. Pois se há tantas outras coisas tão mais prioritárias que há a preocupação de manter. Mas esse espírito de viajante, talvez numa espécie de manobra piedosa para limitar outras preocupações, continua a imiscuir-se nos meus pensamentos, a passar à frente de reflexões mais terra-a-terra, insistentemente: quando iremos, quando iremos? Qual a melhor altura? Para ficar onde? Debaixo de telhado ou debaixo de pano (tenda)? Uma espécie de diabinho (de avião, de carro? Em Portugal, em Espanha?) que esvoaça à volta da minha cabeça, empurrando o anjinho (deve ser feito o máximo de poupança para as escolas, para as comidas, para as roupas, não sabemos o dia de amanhã…) para onde este não pode ser ouvido.
Ahhh… felizmente que os sonhos e a imaginação não têm limites… e não pagam imposto! (por enquanto...)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Halloween

É um facto, o Halloween nada me diz. Nadinha. É um evento de que só me apercebi, em terras lusas, nos últimos anos. Na minha infância e juventude o Halloween era apenas uma festa longínqua que os norte-americanos festejavam (e da qual sabíamos pelas séries e filmes).
Não tenho nada contra o imaginário em causa - fui aliás uma fervorosa leitora das Brumas de Avalon na minha adolescência. Mas é uma coisa tão... importada que me passa totalmente ao lado. Às vezes são os pequenos que nos puxam para "novas tradições", mas por acaso por aqui nem eles são muito ligados ao acontecimento. Na escola dos mais novos a lembrança nesse dia ainda se chama pão por Deus. Apesar de eu não ser também muito ligada a essa tradição pelo menos é mais nossa - e recorda os tempos difíceis em que o pão por Deus dava um acréscimo relevante aos bens alimentares muitas vezes tão limitados. Realidades distantes que às vezes reconquistam actualidade. Mas hoje ninguém tocou a pedir pão por Deus. Nem tricks or treats. 

domingo, 28 de outubro de 2012

Mudança de hora

Estava-me a segurar mas tem que ser. Eu detesto esta história da mudança da hora. Um ódio de estimação há muito acarinhado. Detesto esta coisa de às 5 horas da tarde já ser noite. E sim, prefiro muito mais sair de casa de noite manhã do que chegar à noite. Ainda por cima, (ironias!) essa conversa "esta noite vai-se dormir mais uma hora..." Ao contrário, é ao contrário! É o relógio biológico, o famoso! Pois o ursinho, a flaminga e o futebolista amanhã acordarão uma hora mais cedo do que marca o relógio e diz-me a experiência que nas próximas duas semanas (pelo menos) vai ser assim!
Por isso, esperarei ansiosamente pela próxima mudança da hora, não só por ser prenúncio de muitas outras coisas agradáveis mas também porque, aí sim, os relógios biológicos jogam a nosso favor... Menos uma hora de sono numa noite mas vários dias se seguirão em que poderemos dormir um pouco mais. Volta verão...

Para Roma com amor

Sim, tenho que assumir. Sou parcial neste assunto - Roma e Woody Allen. Roma, porque é uma cidade maravilhosa, absolutamente deslumbrante, e que para além da sua imensa beleza tem outra coisa que a outras falta, que é uma alma imensa, algo de profundamente castiço que lhe dá uma grande autenticidade. Mas a Roma espero voltar, aqui e em presença física por muitas vezes. Woody Allen, porque deve ser o meu único realizador de culto, que me basta saber que o filme é dele para o querer ver. Como diz o Han Solo, nas nossas raras idas ao cinema dos últimos anos só há dois géneros: os filmes do Woody Allen e desenhos animados.
Reconheço-me imenso no estilo de humor dos filmes dele. E consegue algo de muito difícil, que é fazer humor com temas tão delicados como o amor e o sexo. Humor inteligente, claro. Humor boçal e labrego sobre os mesmos temas há por aí muito. Há uns tempos diziam que era o realizador do quotidiano. Dito apenas assim parece um pouco menorizado, acho antes que é o realizador dos sentimentos. De toda a forma afinal a nossa vida é feita de quotidianos, não é verdade?
Nos significados mais profundos do humor que faz é sublime a forma como expõe temas como a fama, a moral, sentimentos de culpa e arrependimentos, política e religião de maneira tão sarcástica, tão cáustica, afinal de contas, tão sadia!
Para Roma com amor. Uma espiral de riso e loucura, num ritmo caótico tão coincidente com o da própria cidade e os seus excessos. Uma caricatura de personagens deliciosa, as perspectivas da juventude e da maturidade em carne viva. Uma crítica mordaz e tão assertiva à fama. Genial nesse apontamento. Não foi o teu melhor filme, Woody? Talvez não. O melhor que vi este ano? Sem dúvida. Fez-me pensar? Muito. Sempre.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Tem dias...

...em que a preocupação é maior que a confiança, em que o céu é mais negro que azul, que há mais crispação que sorrisos, mais chatices que brincadeiras. O que vale é que se chega a casa e nos transformamos em lobos, ursos, cães e gatos, serpentes e memés, e ficamos soterrados por risos, saltos, corridas de mergulho que terminam em abraços. Está tudo bem.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Vira-tempo

Não, não é uma nova dança nem previsão meteorológica. Diz-me o que lês dir-te-ei quem és. O vira-tempo é um instrumento mágico que aparece numa conhecida colecção de livros juvenis. Extremamente útil, I may say. Um vira-tempo é um objecto que nos permite voltar atrás no tempo, e que nesse sentido pode, claro, ter várias utilizações. Vou falar aqui do primeiro objectivo para que foi utilizado, que é de duplicar o tempo disponível. Por exemplo, temos dois trabalhos urgentes e achamos que o tempo só vai dar para um. Pois chega ao fim da tarde, pegamos no vira-tempo e eis que ela (a tarde) começa novamente para acabar o que falta. Demasiados programas para o fim-de-semana? Bota-se-lhe o vira-tempo e dá para lavar toda a roupa que é preciso, ir a um cinema (para adultos!) e passar uma tarde de chuva a jogar jogos de tabuleiro com as crianças. E após uma noite mal passada...? Umas horas de sono extra... Uma invenção genial, não era? E que bom não seria prolongar um conjunto de bons momentos e acelerar uns tantos outros.
Quem sabe o que nos reserva o futuro? Não era o Albert que dizia que tudo era relativo??

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Comprimidos de paciência

Ontem veio-me à cabeça esta expressão: comprimidos de paciência. Se calhar até era um bom nome para um blogue! Neste furacão que é a vida adulta, partilhada por muitos, se houvesse tal coisa que jeito não daria! No trânsito, nos comboios que avariam e pelos quais se espera, para as birras dos miúdos e graúdos, em variadas situações laborais, para ouvir os discursos dos Gaspares desta vida... Todos nós deveríamos ter oportunidade de usufruir dos nossos comprimidos de paciência, por exemplo, umas boas braçadas na piscina (gosto destes), uma sessão de compras, uma hora a ver um bom filme na televisão. ..
Estes comprimidos de paciência deviam ser comparticipados. Aposto que fariam milagres na nossa economia.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

RIP Manuel António Pina

É sempre triste ver alguém com uma escrita simultâneamente tão bonita e tão lúcida ir-se embora assim tão cedo. Ao contrário de muitos outros escritores da nossa praça, este era um homem simples que transmitia ideias simples, mas nem por isso menos interessantes e menos tocantes. Aliás um bom exemplo de que geralmente a beleza se encontra na simplicidade.  

Mudanças de planos

Quando há um sábado planeado com actividades várias após uma semana de trabalho, que inclui programas em família e depois algum tempo a dois... é um programa apetecível!! Mas eis que... o futebolista tem que ir jogar futebol!
Isto de se estar mentalizado e termos que nos re-mentalizar é um bocado difícil. Porque será? Será que à medida que ficamos mais velhos temos maior dificuldade em fazê-lo? Será que é o percurso das sinapses que fica mais lento? Há muita gente que detesta estas re-mentalizações, haverá alguma explicação muito lógica para isso?
Enfim, um espontâneo "desculpa ter-vos estragado o dia" tudo apaga. Que se cumpra o futebol do futebolista, há mais dias para os planos adiados.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Não tem lógica, não...

Como se explica? Quando há um dia menos bom, uma má notícia que chega, receios profundos ou superficiais que nos assaltam... porque é que nestas alturas quando a equipa vence é um alentozinho que chega e quando perde nos empurra um pouco mais para baixo? Vindo de quem não liga muito ao jogo e que na maior parte das vezes não vê os jogos...

sábado, 13 de outubro de 2012

Visita à feira

Há coisas que nunca mudam, e nalguns casos ainda bem.
Apesar de todos os brinquedos sofisticados que existem hoje em dia, dos parques de diversões também eles sofisticados, com nomes diversos, uma boa e velha visita à feira é um acontecimento.
Ele é carrosséis, ele é churros, ele é música foleira aos berros, ele é tendas e vendas a tuta-e-meia, ele é carrinhos de choque, enfim, uma grande animação!
E é maravilhoso o sorriso de orelha-orelha das crianças no carrossel, e então se tratando da primeira viagem, o brilho nos olhos parece dizer: mas que coisa fantástica que eu descobri! Nas palavras do ursinho "feira é popó, música, dançar, é giro!" 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Viagem a um mundo cruel

Uma jovem rapariga activista dos direitos das mulheres no Paquistão luta pela vida depois de ter sido cobarde e barbaramente baleada. A exploração e subalternidade feminina é uma realidade numa parte muito substancial do mundo. Ainda há muitos direitos a conquistar. Hoje o meu Nobel da Paz vai para ela.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Barcelona!

Barcelona é uma cidade deslumbrante. Na verdade, é quase uma cidade perfeita para um visitante - tem de tudo um pouco e penso que deverá contentar todos os gostos. Arquitectura - sim; Museus, antigos e modernos - sim; gastronomia - sim; comércio - sim; desporto (e futebol) - sim; praia - sim; jardins - sim; monumentos polémicos - sim; vida nocturna - sim; e poderia continuar por aqui fora...
É uma cidade vibrante e cheia de ritmo; que me perdoem os catalães, mas nesse sentido é tipicamente espanhola! Ruas fervilhantes de vida, independentemente da hora e do dia da semana, o entra e sai incessante das (imensas!) lojas, os empregados das inúmeras esplanadas no seu vai-e-vem, muitas conversas de muitas línguas a pairar no ar, até no céu podemos ver nalguns sítios o deslizar lânguido dos teleféricos.
Mas o melhor, melhor de tudo, é que é de facto uma cidade que mais que vir de encontro aos turistas, vem de encontro aos viajantes. Também tem, é claro, os spots para coleccionar as fotos da praxe. Mas é muito mais do que isso. É o cenário perfeito para se seguir vagueando pelas ruas (tem que se destacar o Bairro Gótico, mas atenção, há outros), sentar numa esplanada ou num banco ao sabor da vontade, voltar uma esquina para nos surpreendermos pelos contrastes, pela beleza de um recanto, pelos enquadramentos que guardam tantas histórias, murmúrios, segredos e vidas de muitos que por ali passaram. 

domingo, 30 de setembro de 2012

Viagem à Montanha Mágica II

Enfim acabei essa viagem literária!
Grande livro (livro grande, também). Sem dúvida a ler, enfrentá-lo como uma maratona, pois se não tem muitos personagens (e portanto não há problema com eventuais esquecimentos para quem não tem oportunidade de ler com a frequência necessária) é um romance para ir lendo e apreciando o ambiente e os detalhes.
À partida o mote não parece o melhor: inicia-se com uma visita de um personagem a um sanatório de tuberculosos, no início do séc. XX...
Mas é uma extraordinária parábola ao funcionamento em comunidade e como se enclausuram as pessoas nas suas esferas de conforto. E que leva a pensar. Estaremos sem o saber instalados numa esfera de conforto? Será que é isso que o ser humano procura no essencial, a sua esfera de conforto?
O final é extraordinário, por isso não desistam até lá chegar. Que grande viagem esta!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Preparativos

Alturas houve em que gostava de fazer malas. Escolher criteriosamente aquilo que seria mais útil e que ocuparia menos espaço. Arrumar as coisas de forma geométrica. Ter à mão os essenciais (por exemplo, de avião os essenciais são uma escova e pasta de dentes e roupa interior). Actualmente já não gosto tanto de fazer malas porque são a multiplicar, para os que vão, ou para os que vão e para os que ficam. Torna-se uma tarefa muito cansativa e complexa, sem contar com os dias anteriores a lavar roupa que nem uma louca. Faz lembrar a dívida do Estado em que corremos, corremos, corremos para a pagar e ela sempre a aumentar. É como o meu cesto de roupa suja. Penso que é uma boa analogia.
Às vezes, só a lembrança dos preparativos desencoraja a viagem. Parece que por cada dia de preparativos é necessário um de férias para voltar ao normal.
Desfazer malas é um pesadelo (sempre foi), mas desde que há malas a multiplicar, sabemos que estão cá bracinhos muito ansiosos por nos abraçar com força. E que algum vazio dos dias anteriores vai finalmente ser preenchida. É verdade que nunca mais somos tão livres para partir, mas sabe muito melhor regressar.

domingo, 23 de setembro de 2012

O comboio como sala de leituras

É um grande prazer viajar de comboio. Como experiência de vida, um Inter-rail é algo de imperdível. Adorei essa viagem, com todas as aventuras e desventuras, dores nas costas, sede, fome e aquela sensação infinita de liberdade que só esse bilhete na mão dá. Espero que o futebolista, a flaminga e o ursinho um dia tenham oportunidade de a fazer.
O Público hoje noticiava que o comboio era um bom local para se ler e que havia mais gente a ler. É sempre bom quando surge uma notícia que vem de encontro a uma convicção :) Já me tinha apercebido que se vê mais gente a ler (livros) nos comboios. É um óptimo sinal, sempre.

sábado, 22 de setembro de 2012

Uma nova estação

As viagens cíclicas (elípticas, vá) da Terra presentearam-nos com a maravilhosa sucessão das estações, pelo menos aqui na nossa latitude. Cada estação tem os seus encantos e desencantos próprios, e a sua sucessão traz uma aura de renovação que penso que ajuda também a atravessar outras etapas. Muito bem.
Mas de facto, desde que apareceram o futebolista, a flaminga e o ursinho devo dizer que custa muito a abandonar a despreocupação do verão, a simplicidade da roupa, entre muitas outras coisas. Mas foi-se o encanto de uma tarde ventosa que abana as folhas amarelas a fazerem a sua dança dos ramos para o chão? Não, claro que não... mas depois vêm as insuportáveis alergias (sim, assumo que é a mais difícil parte do ano!), a temperatura a descer e a roupa que já não seca de um dia para o outro... E a beleza daqueles límpidos dias de inverno? Óptimo para romper a monotonia dos dias chuvosos, mas as viroses e os frios, e os xaropes e o ranho, ranho, ranho... E das viagens que ficam por fazer porque o tempo não convida e os dias acabam cedo cedinho. E os matizes floridos da Primavera que pintam as colinas e a chegada das aves migradoras para o seu afã dos ninhos... lindo, mas maior é a ansiedade de voltar a tirar as t-shirts da gaveta!!!
Só um à parte, o ano passado tive oportunidade de viajar em Fevereiro para a uma Europa mais continental e foi muito engraçado mesmo experimentar, de verdade, os rigores da neve. Em suma, para viajar todas as estações e meses são bons, mas para os pequenos nadas do dia-a-dia... Verão, regressa, estás perdoado!!! 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Viagem... de poucos segundos com consequências

Um salto para arrumar uma escova e um estrondo... Um coração que cai aos pés com um choro de fundo... É sempre rápido, demasiado rápido para perceber. O ursinho parece são e salvo mas a sua viagem da cama para o chão fez nascer nesta viajante mais uns cabelinhos brancos. E uma angústia fininha cá dentro que vai durar as 48 horas da praxe.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Viagem à Montanha Mágica I

Podia escrever sobre a austeridade e as nossas expectativas ou falta delas mas neste momento estou farta, farta, farta de tanta desesperança, tanto desalento, tanta fúria e irritação e preciso de outros pensamentos. A seu tempo lá voltarei a essas viagens...

Esta é a minha actual e já longa viagem literária: a Montanha Mágica. A Montanha Mágica é um Clássico. As viagens literárias são viagens maravilhosas e insubstituíveis. E os clássicos, têm isso de bom, nunca desiludem. Demorando mais ou menos tempo a ler, sendo mais ou menos "pesados" dão quase, quase 100% garantia de satisfação. Os clássicos deixam-nos sempre alguma coisa, uma impressão forte após a última página, ou profundos ensinamentos e reflexões que às vezes despertam mais tarde. Mas há outro sentimento, mais recente, que me despertam os clássicos: a sensação de que já deveriam ter sido lidos mais cedo... Porquê? A resposta é difícil de dar: porque se conseguiriam ler mais rapidamente, mais seguidamente? porque se teriam retirado ideias, pensamentos, acções, ensinamentos, que já poderiam ter sido úteis? porque em mais jovens a impressão poderia ter sido mais profunda?
Talvez uma mistura de todos eles... Mas ainda bem que encetei a viagem a esta Montanha Mágica. E quanto a esta viagem propriamente dita? Cá hei-de voltar, quando acabar a viagem...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Viagem... a um novo ano lectivo

A normalidade tem coisas boas. O início de um novo ano lectivo, tranquilamente, é pacificador. No meio de toda a crispação, preocupação, irritação, o ano lectivo do futebolista vai começar e tudo se irá iniciar a tempo e horas, organizado, horários prontos, lista de material a postos e vontade de começar, da professora, dele, dos pais e dos colegas. E com saudades da escola. Escola em que estão representadas todas as classes sociais, e sabem que mais? É óptimo. E a escola é óptima. Não me venham denegrir o ensino público porque, como me disse alguém, é o que melhor os prepara para a vida. Novo ano lectivo, bem-vindo! Estamos prontos.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Viagem... para o abismo?

Apesar da situação económica difícil que se vive e por todos reconhecida acho que há muito o hábito do dramatismo excessivo. Vendo bem as coisas é como negociar, de um lado amacia-se as más novas, do outro apresentam-nas mais feias do que são.
Mas neste momento... caminhamos exactamente para onde? Onde vão parar os cortes nos vencimentos, os impostos, a perda de direitos sociais? Não vamos comparar à situação anterior ao 25 de Abril - há que ter senso! que até ofende quem sofreu com as torturas, com os assassinatos... Mas parece estar completamente generalizada a ideia da inevitabilidade de privatizar tudo e mais alguma coisa. Em que é que isso irá ajudar exactamente, sobretudo no caso de empresas que dão lucro? Tantas histórias mal contadas...

Hoje isto foi duro, e vai endurecer mais... E ou sou eu que "não estou a ver bem a cena", mas porque se chama a manif "que se lixe a troika, queremos as nossas vidas..." A troika?! Então e o nosso Governo? Não é dele de facto a responsabilidade última de todas as medidas, algumas que até vão mais além do que está no memorando?

É nestas alturas que se pensa nas tais viagens sem regresso marcado...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Que bom que não é uma das sete maravilhas! Regresso e um novo ano.


Mas é(são) sem dúvida uma(s) praia(s) maravilhosa(s). Para miúdos e graúdos, com valores naturais e boa gastronomia, sem gente a mais!!! Bom tempo, boas noites, excelente mar.
Os meus companheiros de viagem pequenos e grande também se divertiram imenso. Sim, já é tempo de introduzir os meus companheiros de viagem, o futebolista, a flaminga e o ursinho. E o Han Solo que é quem conduz a nave, claro está.
Foram uns dias de alegrias e arrelias, bolachas e água salgada, coca-cola e bolas de Berlim, barcos e comboios, piscina e mar, ranhos e tosses, Panda e palco. E amigos, dos bons.  
Agora respira fundo, aguenta o corte no vencimento e prepara o novo ano. Sim, porque para quem tem quem anda na escola o ano começa agora.