Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A comunidade



Depois de um post sobre introversão e introspecção nada como reflectir um pouco sobre… a vida em comunidade.
É muito possível que aquilo que eu vou escrever não seja assim em várias situações. As aldeias, sobretudo as mais isoladas, têm certamente uma vivência comunitária muito diferente. Haverá por certo vários exemplos pontuais que funcionam. Mas na generalidade a nossa vivência em comunidade (e quando digo nossa, refiro-me à população portuguesa urbana) é francamente deficitária. O que é uma comunidade? De uma forma geral, será um conjunto de indivíduos que habitam o mesmo local, que frequentam os mesmos locais, que têm as mesmas vivências. Certamente que estas comunidades continuam a existir. O que desapareceu (ou quase) foi um certo tipo de vivência comunitária. Estes grupos de indivíduos têm obviamente interesses comuns. A troca de informação, o debate e a decisão em comunidade são muito importantes para ter uma posição representativa (e representada) sobre muitos assuntos. O que move as iniciativas comunitárias são precisamente estes interesses e assuntos comuns. Contudo, não se deve olhar para a comunidade só como uma “união faz a força”. Com o debate de opiniões e ideias pode-se conseguir uma posição mais activa e mais eficaz sobre os problemas que atingem as várias comunidades.
É também importante que nos sintamos pertença de um grupo. Afinal, a maior parte dos nossos problemas são comuns e têm soluções comuns. Atenção: não precisamos de ser todos os melhores amigos. Mas é preciso compreender que a força de uma comunidade é maior que a da soma dos seus indivíduos. E que a sua razão de existir é (ou deve ser) o bem comum de todos os indivíduos que lhe pertencem. Há vários sinais que evidenciam que a presente crise tem despertado as pessoas para a importância desta vivência comunitária. Mas isso por si só não é um indicador de empobrecimento. Na realidade, as sociedades mais desenvolvidas (com menores contrastes sociais) têm um forte sentido comunitário. Aí não é vergonha nenhuma utilizar artigos em segunda mão e ter como base um sistema de trocas para suprir variadíssimas necessidades. Uma vivência comunitária mais intensa não é aceitar ou assumir uma posição de caridade, nem uma afirmação política. É tão só uma atitude de inteligência, racionalidade e declaração de interesse em intervir nos problemas que nos afectam.

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