Sim, tenho que assumir. Sou parcial neste assunto - Roma e Woody Allen. Roma, porque é uma cidade maravilhosa, absolutamente deslumbrante, e que para além da sua imensa beleza tem outra coisa que a outras falta, que é uma alma imensa, algo de profundamente castiço que lhe dá uma grande autenticidade. Mas a Roma espero voltar, aqui e em presença física por muitas vezes. Woody Allen, porque deve ser o meu único realizador de culto, que me basta saber que o filme é dele para o querer ver. Como diz o Han Solo, nas nossas raras idas ao cinema dos últimos anos só há dois géneros: os filmes do Woody Allen e desenhos animados.
Reconheço-me imenso no estilo de humor dos filmes dele. E consegue algo de muito difícil, que é fazer humor com temas tão delicados como o amor e o sexo. Humor inteligente, claro. Humor boçal e labrego sobre os mesmos temas há por aí muito. Há uns tempos diziam que era o realizador do quotidiano. Dito apenas assim parece um pouco menorizado, acho antes que é o realizador dos sentimentos. De toda a forma afinal a nossa vida é feita de quotidianos, não é verdade?
Nos significados mais profundos do humor que faz é sublime a forma como expõe temas como a fama, a moral, sentimentos de culpa e arrependimentos, política e religião de maneira tão sarcástica, tão cáustica, afinal de contas, tão sadia!
Para Roma com amor. Uma espiral de riso e loucura, num ritmo caótico tão coincidente com o da própria cidade e os seus excessos. Uma caricatura de personagens deliciosa, as perspectivas da juventude e da maturidade em carne viva. Uma crítica mordaz e tão assertiva à fama. Genial nesse apontamento. Não foi o teu melhor filme, Woody? Talvez não. O melhor que vi este ano? Sem dúvida. Fez-me pensar? Muito. Sempre.
Viagens pelo mundo, por Portugal, pela rua. Viagens por terras desconhecidas e viagens interiores, viagens na ponta dos dedos através de teclas ou folhas de papel. Pois se o que importa não é o destino mas a viagem, e o que é a vida senão uma grande viagem...
Viajar! Perder países!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
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