Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Viajar de cami'neta

-Não é camioneta, é autocarro!, atira-me sempre a flaminga. Acho que isto da camioneta já é uma evidência da generation gap.
Viajar de camioneta, ou autocarro, tem um certo encanto nostálgico e traz um sentimento de maior proximidade com o país profundo (pelo menos para quem anda muito esporadicamente, como eu).
A cadência regular da condução, os murmúrios das conversas de fundo e a estação de rádio escolhida pelo motorista convidam a alguma introspecção e saudosismo de viagens passadas, possivelmente na verde juventude...
Os expressos hoje estão bastante mais confortáveis, tal como as estradas. Quando era miúda e muitos (muitos mais que hoje) não tinham carro, havia os que preferiam viajar de comboio e os que preferiam viajar de camioneta. Que não haja equívocos: eu sou pessoa de comboios. E ainda hoje os considero uma das melhores formas de viajar. Mas essa ligação com o Portugal profundo, de facto, é mais forte com os expressos.
Os expressos vão onde mais nenhum transporte (colectivo) vai. O Intercidades só circula praticamente no norte pelo litoral. Os regionais no interior norte só vão até ao Pocinho.
O encanto dos expressos vem também de uma certa sensação de vivência de "Road movie". Este road movie transforma-se em road movie estilo decadente quando nos deparamos com as estações rodoviárias (em enorme contraste com o conforto interior dos autocarros, isto para já não falar nas estações de metro e de comboios, um luxo, ao pé destas). Estas estações são uns buracos negros, sim, com ar enormemente decadente e povoadas por várias criaturas também elas com ar bastante decadente. As casas de banho não têm tampo de sanita e têm um ar... desolador... O barzinho das estações é geralmente uma divisória minúscula em que a maior parte dos artigos estão empacotados. As salas de espera, buracos escuros dentro dos buracos escuros, fazem suspirar pelo regresso à cami'neta. E não se pense que isto é descrição de uma estação do interior esquecido e ostracizado... Não! Esta descrição foi inspitada numa estação rodoviária das maiores cidades do país.
No próprio interior, neste caso Vila Real... a estação era (pasme-se!) uma paragem no meio de uma rua com um telheirozinho por cima e aberta por todos os lados. Tipo paragem de autocarro suburbano em Lisboa. Isto nos dias frios, quiçá com neve, deve ser uma maravilha.
Enfim a chegada, após 6 horas e meia de viagem. O destino, esse, fica para próximo post.

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