É, claro, uma frase da flaminga, que de tempos a tempos gostava de ser uma espécie de animal diferente. E de certa forma, é-o de vez em quando, nas suas brincadeiras, nesta idade em que podemos ser o que queremos.
Dei comigo a pensar um pouco melhor de como seria essa história de ser um cão (eu, não ela). Se à primeira vista poderia ser quase tão confortável como (parece!) ser-se um bebé, quando pensamos nos animais maltratados e abandonados aí o caso muda de figura. Mas encontra-se rapidamente um quase assustador paralelismo com a nossa população humana. Pois não há tantas pessoas abandonadas e mal-tratadas, pessoas de primeira e de segunda...?
Numa outra perspectiva poderíamos pensar que os cães com bons donos e casas confortáveis seriam os "cidadãos do 1º mundo canino", enquanto que os cães vadios, que passam fome e com poucas condições de saúde e higiene seriam os do "3º mundo canino"... Mas não será essa uma visão deturpada primeiro-mundista? Será que afinal somos nós (humanos, 1º mundo), os humanos domesticados? E que uma tribo com pouco contacto com o resto do mundo da selva amazónica são os humanos que pensam mais por si e fazem mais valer os seus instintos? Não é uma questão inquietante?
E, de "ultimate question" (tanto que gosto da palavra ultimate... acho que não tem tradução à altura...)... serão mais felizes?
Por estranho que pareça este paralelismo do mundo canino com o nosso já teve aparentemente bastante quem pensasse nele! E este tipo de reflexão está até contida na música dos nossos artistas, enfim, ou poetas, conforme queiramos ver a questão:
-"Mais vale ser um cão raivoso... do que um carneiro... a dizer que sim ao pastor... o dia inteiro!" S. Godinho
ou
"Eu sou o cão do Pantaleão... e eu sou o cão apenas cão..."
"Tenho uma coleira amarela, que parece uma trela... cá eu não gosto da trela..."
"Tenho um casaco e cachecol, e até um chapéu mole... cá eu tanto ando à chuva como ao sol..."
Viagens pelo mundo, por Portugal, pela rua. Viagens por terras desconhecidas e viagens interiores, viagens na ponta dos dedos através de teclas ou folhas de papel. Pois se o que importa não é o destino mas a viagem, e o que é a vida senão uma grande viagem...
Viajar! Perder países!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
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