Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 6 de março de 2013

O paradoxo da política

Na sequência do meu post de ontem, apreciei hoje particularmente este artigo do Daniel Oliveira http://expresso.sapo.pt/santo-chavez-e-o-pecado-do-soberba=f791470

E vejo aqui uma figura de nestedness (para os utilizadores da clássica ANOVA) ou, para quem quiser outra imagem, das "bonecas matrioskas". Eu aprecio geralmente o que o Daniel Oliveira escreve. Não quer dizer que concorde com tudo o que ele escreve e diz; com muitas coisas não concordo, posso considerar demagógicas, ou irrealistas, ou algo do género. Mas aprecio a sua visão humanista e, acima de tudo, a capacidade e a coragem de se opôr a opiniões, correntes e personagens incontestadas dentro do seu próprio Partido. Há muito por aí quem seja incapaz de criticar o Chávez (pelos motivos que ele expõe) pelo facto de ele ter tido uma política de apoios sociais (aí muito positiva), tornando-o assim acima de qualquer possibilidade de crítica. Ora como dizia o outro os fins não podem justificar os meios.

Já agora queria acrescentar que o facto do Daniel Oliveira ter saído do seu partido confirmou a meus olhos a sua personalidade corajosa e a sua coerência (caso não vá a correr para outro Partido mas, enfim, poderá ter as suas razões para o fazer). E disse uma coisa muito importante: que uma das suas desilusões ou críticas tinha a ver com facto do Partido não querer procurar pontes para efectivamente se tornar uma alternativa, para além apenas de uma voz crítica.

E aqui reside o paradoxo: o conforto que dá sentir alguém coerente na política por ter tido a coragem de cortar laços com o seu partido faz-me lá no fundinho fazer brilhar uma réstea de esperança na política e nos políticos; mas se são estes quem sai... então os que ficam não alimentam a minha esperança... no final de contas a esperança aumenta ou diminui? (Eu digo, quando encontrar a resposta).

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