Bem sei que já se escreveram rios de tinta sobre este assunto, e que ainda continuarão a escrever-se.
Eu não concordo também com este acordo ortográfico.
Logo em primeira mão tenho (temos) a resistência compreensível (para mim e para a grande maioria, creio), de assimilar mudanças de algo que fazemos há anos ou décadas (pensando em pessoas vivas, claro). E não é só a questão da memorização. A incoerência entre a escrita de palavras com a mesma génese confunde mesmo, não só a forma de escrever mas também de ler.
E depois, entre os motivos mais irracionais, como eu gosto de escrever todos aqueles c's e p's mudos (e parece que, desde que foram banidos, ainda gosto mais). Acho que dão imensa graça à nossa língua. Manias, talvez, mas assim é...
Posto isto, por motivos profissionais tive mesmo que adoptar o novo acordo sempre que eram produzidos documentos para o Estado. Mas numa fase inicial, apenas nessa ocasião. Com a preciosa ajuda (ainda que incompleta) dos corretores ortográficos.
Numa segunda fase, foi com convicção que decidi querer aprender este novo acordo, por causa da escolaridade dos miúdos. Há anos já que se ensina a ler segundo o novo acordo. Estas crianças e jovens conheceram sempre a jiboia e o Egito.
Viagens pelo mundo, por Portugal, pela rua. Viagens por terras desconhecidas e viagens interiores, viagens na ponta dos dedos através de teclas ou folhas de papel. Pois se o que importa não é o destino mas a viagem, e o que é a vida senão uma grande viagem...
Viajar! Perder países!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
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