Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

sábado, 1 de junho de 2013

Três anos

E chegou aos 3 anos ontem o meu ursinho, em dia de grande animação, já que coincidiu também com as comemorações do dia da criança na escola e mais tarde, claro está, houve comemoração familiar.
Tal como na altura comentei em relação ao futebolista, cada um dos meus filhos me trouxe um importante e estrutural ensinamento, estrutural porque cada qual de sua forma alterou a minha forma de viver a vida e olhar o mundo.
A sequência lógica destes ensinamentos é a própria sequência cronológica dos miúdos, mas como a flaminga só no verão fará anos, deixo o seu ensinamento para essa altura.
O ursinho trouxe-me porventura o mais intenso ensinamento, com alguma dureza, diga-se. Na verdade, podem-se dividir em dois: o primeiro, é que na vida as coisas nem sempre correm de acordo com os nossos planos, mas, na realidade, isso pode ser bom, ou tornar-se bom. Isto pode parecer óbvio para muitos, mas para mim, que tenho intrínseco o planeamento, não era. Mesmo tendo em mim um espírito que necessita o quebrar de rotinas e por vezes mesmo de fracturas que entendo necessárias, e algum espírito de aventura que mesmo quando está um pouco adormecido, está cá, tudo isto é acompanhado de constante cálculo de riscos e benefícios. Cada qual com os seus hábitos excêntricos, enfim.
O outro grande ensinamento é que ele me fez ver que a minha pessoa também tem que ter (mais) existência para lá de todas as exigências da maternidade e outras. E que devia subir uns degrauzinhos na escala das prioridades. Pode parecer paradoxal, mas estou plenamente convicta que, feitas as contas, isso é melhor para eles também. O caminho que me levou até aí foi o de tomar consciência que tinha que reconhecer e acautelar os meus próprios limites. Sim, porque até lá para mim não havia limites. De nada. De cansaço, de quantidade e tipo de coisas que podia ou queria fazer. Tudo sempre se podia arrumar. Mas isso não é assim. E quem vejo fazer tudo e mais alguma coisa, já não vejo só com admiração (ainda alguma, pois até certo ponto isso é uma virtude) mas com alguma sensação de que a história não está bem explicada - ao fazer tanta coisa, pelo caminho algumas deles não ficam, com toda a certeza, bem feitas. E isso faz toda a diferença.
Por tudo isto e muito mais, ursinho, um enorme obrigada por teres aparecido na minha e na nossa vida, o meu filho do extremo e de extremos: ou está esfuziante de contente ou está ruidosa e intensamente zangado, muita muita actividade, muitos saltos, muitas corridas, muitas gargalhadas de enorme sorriso aberto, muito afável para todos mas também com enorme facilidade em aplicar uma palmada em quem quer que seja se assim o entender. Contigo não há meias tintas e desde que chegaste foi com enorme determinação e sem sombra de hesitação que conquistaste o teu lugar numa família já com dois irmãos mais velhos. No meio de toda esta intensidade, a tua presença, a tua existência, preenche-me de uma enorme tranquilidade e realização. Parabéns, meu ursinho!

2 comentários:

  1. Muitos parabéns ao ursinho e aos papás. Espero que tenham passado um dia feliz. Bjs

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