A derrota com o Porto foi um balde de água fria. Por ter sido como e quando foi. Tão imensa que me afectou mais do que eu, sempre agarrada à minha racionalidade, gosto de imaginar. Aquilo no fundo não nos é nada, são 11 marmanjos de cada lado a correr atrás de uma bola. Mas ao fim e ao cabo não é possível ficar indiferente.
Não tinha fé nenhuma (nunca tenho, é certo) nesta Final. Não tinha, não sei porquê, talvez porque o Benfica tem este karma das finais europeias, talvez por ter custado tanto a engolir a última derrota, não tinha sequer disponibilidade mental para pensar noutra. Talvez ainda porque é muito difícil de ganhar estes jogos ou, ainda, (e mais provável) como tenho sempre tanto que fazer e pensar, nem um segundo houve para pensar no assunto.
Mas à medida que se aproximou a hora e com o desenrolar do jogo, o corpo e a alma foram-se rendendo, com a preciosa ajuda do futebolista, claramente mais ciente e mais antecipador de tudo do que eu. E foi sofrer a bom sofrer, comer sem perceber bem o que fazia, pôr mecanicamente a comida nos pratos, um olho nos miúdos, o outro na televisão, os ouvidos todos lá.
E (agora é altura de desviar as crianças porque vou ter que começar a praguejar) porra, tinha que ser assim outra vez???!!!! Mas que merda, que raio de karma, jogar assim tão bonito e com tanto virtuosismo para depois morrer na praia outra vez, que porra de lei das probabilidades é esta para o azar vir sempre bater à mesma porta!! Sim, não foram perfeitos, cometeram erros e teriam que rematar mais e melhor, mas estiveram muito bem, houve alguns apontamentos fantásticos, se houvesse nota para a performance, como na ginástica, tinham por certo ganho.
É o jogo, assim como é a vida, não é a lógica nem a justiça que a conduz. E os bifes, na verdade, fizeram um jogo honesto e ganharam, ponto final. E no fundo, o futebol serve também para isto, para libertar tensões e gritar com a vida que às vezes também merece que lhe gritem. Merecíamos todos nós um pouco mais de sorte, já bem basta a porcaria da crise, esta pobreza e esta miséria financeira, mental, social, mais esta vida de correria, esta incerteza que se cola à pele, mais o azar do acidente do carro. Uma pequena vitória hoje não apaga nada disto - os problemas estão cá todos amanhã (também já não há pachorra para a conversa da alienação!!!) mas pelo menos hoje ao serão estávamos todos um pouco mais felizes.
Mas não, ainda não foi desta, afinal vamos é ficar todos ainda um bocadinho mais zangados. E o pior de tudo é que isto pôs muito triste o meu filho!!! E isso, isso, é que mesmo mau de engolir!
Viagens pelo mundo, por Portugal, pela rua. Viagens por terras desconhecidas e viagens interiores, viagens na ponta dos dedos através de teclas ou folhas de papel. Pois se o que importa não é o destino mas a viagem, e o que é a vida senão uma grande viagem...
Viajar! Perder países!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
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