Desde o início achei que as muito discutidas formas de protesto que têm inundado os meios de comunicação foram algo de criativo, bem-humorado e até fresco (na medida da sua originalidade). Refiro-me claro está aos cantares da "Grândola" e aos pedidos de emissão de facturas em nome do nosso primeiro-ministro e alguns dos seus mais destacados membros do Governo. Analisando com atenção, lamento que a questão das facturas tenha sido tratada com tanta burrice pelo nosso Governo - evidentemente que é importante a emissão de facturas e evitar a fuga ao fisco; mas a sua tão inábil divulgação provocou exactamente o efeito contrário ao que se pretendia.
A população portuguesa, ao tomar as atitudes que inicialmente descrevi, está obviamente a protestar, não só pelas duríssimas medidas de que tem sido alvo mas também da falta de exemplo a que assiste da sua comunidade governante e mesmo de algumas atitudes provocatórias por parte deste mesmo Governo.
Fiquei com uma pequena vaidade (perdoem-me esta fraqueza) da maior parte dos programas de debate terem uma opinião completamente coincidente à minha, e até uma fonte de informação mais externa, como o Finantial Times. Até da parte do Governo se dever considerar muito feliz por esta tipologia de protesto. Estivesse ele na Grécia ou em Espanha e já não seria tão simpático. Enfim, é só ver as notícias.
Confundir estes protestos com limitação da liberdade de expressão é tão, tão ridículo, que daí apenas se espreme que quem apoiou essa tese ficou muito mal na fotografia.
Descansem Passos e Relvas: não tenciono pedir facturas em vosso nome; prefiro guardá-las para mim, embora já tenha percebido, aliás como todo o povo português, que em matéria de vantagem directa para mim ela é basicamente nula; mas entendo que terceiros devem pagar seus impostos por isso (sempre que considerar razoável) tenciono pedi-las; como aliás já fazia.
Agora quanto aos cantares, já estou a afinar a garganta. Ao contrário de ti, Relvas, há muito que sei a música de cor.
Viagens pelo mundo, por Portugal, pela rua. Viagens por terras desconhecidas e viagens interiores, viagens na ponta dos dedos através de teclas ou folhas de papel. Pois se o que importa não é o destino mas a viagem, e o que é a vida senão uma grande viagem...
Viajar! Perder países!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
Sem comentários:
Enviar um comentário