A flaminga é uma força da natureza. Muito muito raramente adoece (já nem me lembrava da última vez), apesar do seu semblante mais franzino que o dos irmãos e do seu apetite menos voraz.
Mas hoje calhou-lhe a ela. Uma febre que cede ao ben-u-ron e que dá aqueles olhinhos pesados, avermelhados, mas doces, que não enganam. As doenças (insignificantes) da infância são a mais perfeita desculpa para um dia pleno de mimos e atenções, aconchegos, mantinhas, desenhos animados e comidas favoritas. Se for suficientemente leve a doença, acho que toda a criança gosta, de vez em quando, de um dia assim. Estar doente em adulto já não tem graça nenhuma. Apesar dos filhotes me encherem também de mimos, à sua maneira, as responsabilidades e afazeres estão lá, praticamente todos, em cima do mau-estar, que em estado adulto é muito mais pesado. Quando me calha a mim (e não é assim tão raro, a resistência da flaminga não veio, decididamente, da mãe), deve ser das ocasiões em que mais saudades tenho da infância.
Viagens pelo mundo, por Portugal, pela rua. Viagens por terras desconhecidas e viagens interiores, viagens na ponta dos dedos através de teclas ou folhas de papel. Pois se o que importa não é o destino mas a viagem, e o que é a vida senão uma grande viagem...
Viajar! Perder países!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
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