Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

sábado, 22 de junho de 2013

A genética, a cultura e o destino

Há pouco tempo dei por mim em blogue alheio a defender com unhas e dentes a influência da genética naquilo que somos e nos nossos actos.
A discussão da magnitude da influência da genética versus cultura/ambiente é uma discussão de longa data no seu meio específico. Lá que os genes estão cá, em cada uma das nossas pequenas células, isso é garantido; a cultura e o ambiente neutralizá-los-ão por completo, de forma que duas pessoas geneticamente idênticas sujeitas a ambiente/cultura diferentes serão diametralmente opostas?
Acredito que não sejam diametralmente opostas, mas poderão ser muito diferentes, sem dúvida.
Uma questão diferente, mas que acaba por bater na mesma tecla é: temos de facto uma série de instintos inscritos nos nossos genes, como um instinto de maternidade (que poderá ter as mais diversas formas), no fim de contas é a vivência que molda as nossas reacções, mesmo as mais instintivas?
Obviamente estas nunca serão respostas de preto-e-branco. Nos últimos anos têm vindo a lume questões muito interessantes, como a diferença no desenvolvimento fisiológico e neurológico de rapazes e raparigas. De uma forma muito simplista, e em geral, aqui podemos dizer que há muito boas pistas para afirmar que sim, está nalgum lado inscrito que eles por serem rapazes gostam mais de carrinhos e elas por serem meninas gostam mais de bebés e bonecas. Ou de outra forma, eles têm um desenvolvimento físico/psicológico que os torna em geral mais aptos e interessados em movimento e mecânica e a elas nos temas de interacção social. Friso, em geral.
Curiosamente, dei por mim a acreditar muito mais na influência da genética depois de ter sido mãe. Por ver neles comportamentos que não lhes foram ensinados pelos pais (nem por outros); por assistir ao diferente desenvolvimento de meninas e meninos; e por verificar que em fases tão, tão prematuras, há já traços de personalidade tão vincados.
Será que esta "crença" na genética pode ser comparada a outra forma de acreditar no destino? O que é algo de completamente contraditório para mim, firme crente que o futuro-é-aquilo-que-eu-fizer-dele. Mas no fim de contas, qual será a real magnitude desta bagagem que trazemos connosco à nascença? Serei afinal uma parcial crente no destino (genético), vestida com outras roupagens?

2 comentários:

  1. Para lhe responder posso apenas afirmar-lhe que a Mini mais velha é fotocópia de sua mãe e Mini mais nova fotocópia de seu pai. Para o bem e para o mal. Tanto nos traços físicos na generalidade, como na forma de estar e sentir, em particular.

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    1. Acho que cá em casa não tenho paralelismos tão marcados assim, em termos físicos a flaminga é muito pai, em feitio talvez mais mãe, os rapazes o inverso, mas um pouco mais baralhado... mas isso é também mais uma marca dessa "bagagem genética" que trazemos connosco. Aliás, ela determina também essa parecença com pai e/ou com mãe em muitos e variados aspectos! Isso levanta também a questão comportamental interessante se, em termos psicológicos, o facto de um filho se parecer mais com um dos pais o outro tenderá a parecer-se mais com o outro? Será que o facto de sentirem à priori determinadas afinidades com um deles os pode aproximar ainda mais? (em termos de comportamento semelhante, por exemplo...)

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