Foi o futebolista que me deu a notícia ontem de manhã.
No momento em que a ouvi fiquei imediatamente triste e senti mesmo um certo mau-estar.
Tal como tantos outros eu cresci a ouvir histórias sobre as façanhas do Eusébio, no fundo o tipo de relatos que passam de pais para filhos tal como na ancestralidade... As imagens que vi não deixam dúvidas quanto ao seu talento e elegância em jogo.
É preciso que se diga que eu gosto de futebol e tempos houve em que acompanhava relativamente perto o que se passava pelas competições apesar de ter ido muito poucas vezes a estádios.
A sensação que fica é a do desaparecimento de uma certa memória colectiva.
Não sou pessoa de heróis nem de ídolos, mas algumas personalidades incutem em mim profundo respeito. Esta era uma delas, na sua área, que foi o desporto, tema relativamente ao qual reconheço que sou bastante sensível.
Neste como noutros casos, aquilo que mais toca não é o desfile das personalidades públicas (completamente transversal), mas a reacção espontânea e massiva da população, das pessoas que apesar da chuva se deslocaram para os vários locais de homenagem e, também, da dor sincera mostrada por tantos. É certo que sempre existiram e sempre existirão carpideiras, mas a esmagadora maioria das imagens que vi não se finge. Tanta gente, tanta gente simples e humilde, tantos com a dureza da vida marcada no rosto e que por certo não têm gosto nenhum em mostrar lágrimas públicas (que alguns até escondiam quando não aguentavam mais).
É a lei da vida.
Bonito foi também ver adeptos de diferentes cores juntarem-se às homenagens, num clima de harmonia do qual não tenho memória. Desta vez, foi o sector do desporto tantas vezes acusado de boçal e violento (e por vezes com razão) que deu uma lição a outros sectores. Por pessoas anónimas, claro.
Viagens pelo mundo, por Portugal, pela rua. Viagens por terras desconhecidas e viagens interiores, viagens na ponta dos dedos através de teclas ou folhas de papel. Pois se o que importa não é o destino mas a viagem, e o que é a vida senão uma grande viagem...
Viajar! Perder países!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
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