Os relatos dos gritos entusiásticos pelo Isaltino e da sua reacção através das grades enviando jornais em chamas roça o surrealismo.
Podia ser uma cena de um filme dos irmãos Cohen, ou então do David Lynch.
O homem está preso por crimes que cometeu no desempenho das suas funções como autarca e mesmo assim "ele" ganha.
Às vezes a realidade consegue mesmo ultrapassar a ficção.
Viagens pelo mundo, por Portugal, pela rua. Viagens por terras desconhecidas e viagens interiores, viagens na ponta dos dedos através de teclas ou folhas de papel. Pois se o que importa não é o destino mas a viagem, e o que é a vida senão uma grande viagem...
Viajar! Perder países!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Apercebemo-nos da irremediável passagem do tempo quando...
...começamos a receber e-mails da Tena Lady.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
O vento a mudar
Ontem ao final da tarde estávamos a ouvir o vento a soprar lá fora, mais frio do que o habitual, cada um ocupado em tarefas mais tranquilas do que é costume, na minha casa tão movimentada. Eu lia enroscada no sofá, o Han Solo estava no computador e o futebolista e a flaminga jogavam com umas cartas fabricadas pelo primeiro com um simples papel de rascunho e uma esferográfica. O ursinho não estava em casa, mas com os avós, por sinal também tranquilo, a dormir uma sesta.
E tal como a personagem do livro que eu lia, à qual o vento trazia premonições e mudanças de vida, dei por mim a sentir que finalmente o outono não vai tardar. E no fim de contas, apesar das suas desvantagens, traz também consigo alguns destes momentos intimistas de reflexão e encontro connosco próprios. Não sei se tenho já vontade de me despedir do verão, mas naquele momento soube que estava preparada para a chegada do outono e para as mudanças que este traz com ele.
E tal como a personagem do livro que eu lia, à qual o vento trazia premonições e mudanças de vida, dei por mim a sentir que finalmente o outono não vai tardar. E no fim de contas, apesar das suas desvantagens, traz também consigo alguns destes momentos intimistas de reflexão e encontro connosco próprios. Não sei se tenho já vontade de me despedir do verão, mas naquele momento soube que estava preparada para a chegada do outono e para as mudanças que este traz com ele.
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Xeque ao Ensino (público)
É difícil explicar o quanto me irrita e repugna a medida proposta à Assembleia vulgarmente designada por “cheque-ensino”.
Tenho acompanhado este assunto, que me preocupa, na comunicação social. As primeiras notícias mais definidas sobre o tema surgiram em Agosto. Claro, bem em pleno Agosto com o povo de férias. Devo dizer que as primeiras vezes que ouvi algo sobre o tema não me pareceu nada de especial. Algo de muito indefinido, falava-se em alunos de famílias carenciadas, e tal… Até ler esse artigo do Público de Agosto.
Então é o seguinte: os alunos em zonas que carecem de estabelecimentos de Ensino já estão actualmente abrangidos pelos tais contratos entre o Estado e escolas privadas para que a educação lhes esteja garantida; pelo que sei, para alunos de famílias carenciadas também já existem alguns apoios para frequentarem escolas privadas. Se não têm todos acesso ainda de forma digna, então, se a opção de fazer mais escolas públicas não está em cima da mesa (???) então que se façam mais dos tais contratos de associação. Neste domínio, o novo diploma nada acrescenta.
Agora factos: o organismo público competente recentemente divulgou os números - está comprovado que um aluno a estudar no ensino público custa menos ao Estado que um aluno que estude no Ensino particular apoiado pelo Estado. Mais: dados recentes da OCDE comprovam que este cheque-ensino NÃO diminui desigualdades no acesso à Educação.
Então perguntamo-nos: Porquê? Lamentavelmente, mais nenhuma explicação emerge do que a obsessão em privatizar o Ensino, de o entregar a privados que já sobejamente demonstraram que não defendem o interesse público, como é óbvio. O seu objetivo é o lucro, e é natural e não criticável que assim seja. Mas, convém que abramos os olhos – não às nossas custas!!
O perigo desta medida não tem apenas a ver com a ameaça de pôr as famílias a pagar o ensino obrigatório. O ensino público, com todos os defeitos que tem, promove de facto uma igualdade de acesso ao Ensino a todos (a possível – que com certeza pode ser melhorada e é aí que os esforços devem ser empregues). E isto é das coisas mais fundamentais para sustentar um país decente para viver e que propicie condições de vida dignas aos seus cidadãos. É certo que os alunos nunca vão ser iguais; mas já agora, que sejam o mais iguais possível.
Custa-me muito a acreditar que uma medida destas possa passar assim. Eu aceito financiar um Ensino para todos; não aceito financiar acessos a colégios para alguns (que tenham alternativas públicas).
Há tantos assuntos menores que fazem correr tanta tinta. Que movem tanta gente e tantas opiniões. Isto é muito importante, aqui e agora. Para nós, para os nossos filhos e para os filhos deles. Para os nossos amigos, e menos amigos, para todo o país. Eu sou de opinião que devemos escolher as nossas lutas – não, não dá para todas. Mas esta é daquelas que vale bem a pena!
Apelo aos leitores que partilhem este texto, caso concordem com ele. Já muitos exemplos houve de recuos em face de protestos. Este pode bem ser mais um, e tomara que seja.
Tenho acompanhado este assunto, que me preocupa, na comunicação social. As primeiras notícias mais definidas sobre o tema surgiram em Agosto. Claro, bem em pleno Agosto com o povo de férias. Devo dizer que as primeiras vezes que ouvi algo sobre o tema não me pareceu nada de especial. Algo de muito indefinido, falava-se em alunos de famílias carenciadas, e tal… Até ler esse artigo do Público de Agosto.
Então é o seguinte: os alunos em zonas que carecem de estabelecimentos de Ensino já estão actualmente abrangidos pelos tais contratos entre o Estado e escolas privadas para que a educação lhes esteja garantida; pelo que sei, para alunos de famílias carenciadas também já existem alguns apoios para frequentarem escolas privadas. Se não têm todos acesso ainda de forma digna, então, se a opção de fazer mais escolas públicas não está em cima da mesa (???) então que se façam mais dos tais contratos de associação. Neste domínio, o novo diploma nada acrescenta.
Agora factos: o organismo público competente recentemente divulgou os números - está comprovado que um aluno a estudar no ensino público custa menos ao Estado que um aluno que estude no Ensino particular apoiado pelo Estado. Mais: dados recentes da OCDE comprovam que este cheque-ensino NÃO diminui desigualdades no acesso à Educação.
Então perguntamo-nos: Porquê? Lamentavelmente, mais nenhuma explicação emerge do que a obsessão em privatizar o Ensino, de o entregar a privados que já sobejamente demonstraram que não defendem o interesse público, como é óbvio. O seu objetivo é o lucro, e é natural e não criticável que assim seja. Mas, convém que abramos os olhos – não às nossas custas!!
O perigo desta medida não tem apenas a ver com a ameaça de pôr as famílias a pagar o ensino obrigatório. O ensino público, com todos os defeitos que tem, promove de facto uma igualdade de acesso ao Ensino a todos (a possível – que com certeza pode ser melhorada e é aí que os esforços devem ser empregues). E isto é das coisas mais fundamentais para sustentar um país decente para viver e que propicie condições de vida dignas aos seus cidadãos. É certo que os alunos nunca vão ser iguais; mas já agora, que sejam o mais iguais possível.
Custa-me muito a acreditar que uma medida destas possa passar assim. Eu aceito financiar um Ensino para todos; não aceito financiar acessos a colégios para alguns (que tenham alternativas públicas).
Há tantos assuntos menores que fazem correr tanta tinta. Que movem tanta gente e tantas opiniões. Isto é muito importante, aqui e agora. Para nós, para os nossos filhos e para os filhos deles. Para os nossos amigos, e menos amigos, para todo o país. Eu sou de opinião que devemos escolher as nossas lutas – não, não dá para todas. Mas esta é daquelas que vale bem a pena!
Apelo aos leitores que partilhem este texto, caso concordem com ele. Já muitos exemplos houve de recuos em face de protestos. Este pode bem ser mais um, e tomara que seja.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Incêndios
(Quase) todos os anos é a mesma coisa. Digo quase porque há alguns anos mais propensos a incêndios que outros. E este foi um deles: muita chuva no inverno, muito calor no verão. Muita biomassa para arder. E cá está a arder.
Quando percebemos um pouco dos assuntos “quentes” da comunicação social é arrepiante a falta de conhecimento, esclarecimento ,oportunismo e sensacionalismo das notícias que são transmitidas. O que faz com que fique a desconfortável sensação dos disparates que também devemos engolir todos os dias sobre áreas que não dominamos.
Não percebo o fetiche da grande maioria das pessoas com os incendiários. Ainda ontem na rádio uma presidente da Câmara tinha a certeza de “ser fogo posto”. Eu punha as minhas mãos no fogo sobre se a senhora tinha as habilitações necessárias para saber identificar um fogo posto. Esta obsessão do fogo posto também é partilhada pelos meios de comunicação. Suponho que seja porque o cheiro a crime atrai mais audiência. Mas é uma pena que não se ouçam os especialistas na matéria.
80% dos fogos são de origem acidental. Esta percentagem vem de anos de estudos dos profissionais habilitados na área. Acidental, mas na grande maioria consequência de desleixo e incúria. Uma beata atirada de um carro em movimento; vidros deixados em matas que provocam as ignições. Era importante que este tipo de informação fosse transmitida ao grande público, já que grande quantidade de pessoas poderá ter comportamentos que podem dar início a incêndios sem mesmo terem consciência disso. Claro, há outros factores, e a chave estará na gestão florestal, que tem múltiplos problemas associados. É bom também ter em mente que os incêndios sempre existiram, e existirão, em Portugal, tal como existem em todas as regiões mediterrânicas do mundo, pois é nestas zonas um fenómeno natural. A acção será sempre no sentido de diminuir o nº e extensão de incêndios, alertar mais rápido, combater mais depressa, de forma mais segura.
Haver incendiários é lamentável, mas provavelmente sempre os haverá. Têm que ser devidamente julgados (se calhar tratados, em muitos casos). Actos de incúria podem ser em parte evitados com uma correcta sensibilização – e responsabilização, claro, sempre que possível. Se os meios de comunicação se focassem mais nisso e menos na especulação sobre incendiários e em dar tempo de antena a quem ignora a matéria provavelmente conseguíamos ter menos incêndios e menos mortes.
Quando percebemos um pouco dos assuntos “quentes” da comunicação social é arrepiante a falta de conhecimento, esclarecimento ,oportunismo e sensacionalismo das notícias que são transmitidas. O que faz com que fique a desconfortável sensação dos disparates que também devemos engolir todos os dias sobre áreas que não dominamos.
Não percebo o fetiche da grande maioria das pessoas com os incendiários. Ainda ontem na rádio uma presidente da Câmara tinha a certeza de “ser fogo posto”. Eu punha as minhas mãos no fogo sobre se a senhora tinha as habilitações necessárias para saber identificar um fogo posto. Esta obsessão do fogo posto também é partilhada pelos meios de comunicação. Suponho que seja porque o cheiro a crime atrai mais audiência. Mas é uma pena que não se ouçam os especialistas na matéria.
80% dos fogos são de origem acidental. Esta percentagem vem de anos de estudos dos profissionais habilitados na área. Acidental, mas na grande maioria consequência de desleixo e incúria. Uma beata atirada de um carro em movimento; vidros deixados em matas que provocam as ignições. Era importante que este tipo de informação fosse transmitida ao grande público, já que grande quantidade de pessoas poderá ter comportamentos que podem dar início a incêndios sem mesmo terem consciência disso. Claro, há outros factores, e a chave estará na gestão florestal, que tem múltiplos problemas associados. É bom também ter em mente que os incêndios sempre existiram, e existirão, em Portugal, tal como existem em todas as regiões mediterrânicas do mundo, pois é nestas zonas um fenómeno natural. A acção será sempre no sentido de diminuir o nº e extensão de incêndios, alertar mais rápido, combater mais depressa, de forma mais segura.
Haver incendiários é lamentável, mas provavelmente sempre os haverá. Têm que ser devidamente julgados (se calhar tratados, em muitos casos). Actos de incúria podem ser em parte evitados com uma correcta sensibilização – e responsabilização, claro, sempre que possível. Se os meios de comunicação se focassem mais nisso e menos na especulação sobre incendiários e em dar tempo de antena a quem ignora a matéria provavelmente conseguíamos ter menos incêndios e menos mortes.
Mimo, alimentação e vacinas
Não sou leitora habitual da Pais & Filhos, mas gostei muito deste texto.
http://www.paisefilhos.pt/index.php/destaque/6496-o-cuidado-dos-bebes-esta-muito-medicalizado
Por acaso acho que o título nem está muito bem posto, apesar de provavelmente ser verdade. Isto porque uma série de aspectos que ele foca também podem (e frequentemente são) correctamente transmitidos por um pediatra e, aliás, ele próprio é pediatra.
O artigo foca as 3 coisas do título sobre as quais sempre tive a opinião que este partilha.
Mimo – bem, o mimo pode ser muitas coisas. A parte negativa do mimo será no caso das crianças que obtêm tudo o que pedem (pensando num conceito material, sobretudo; porque não hão-de ter um abraço ou um beijo sempre que o pedem??) Mas o mimo é sobretudo o carinho e atenção; e carinho a mais nunca fez mal a ninguém, muito pelo contrário. Claro que do meu ponto de vista ser carinhoso por vezes é contrariar carinhosamente. Mas enfim, acho que o termo mimo ficou com uma fama muito indesejável, que não faz jus à palavra no seu significado real.
Alimentação – nunca fui apologista de obrigar as crianças a “limpar” o prato – e sempre ouvi muitas opiniões contrárias, e até críticas, por não ser apologista disso. Acho, como diz o entrevistado, que é uma violência obrigar a comer. Para mim é – ter que comer sem ter fome é terrível. Se houver boas regras de alimentação, não é nenhum drama que a criança não coma tudo – nem implica desperdício, pode-se (quase) sempre guardar para próxima ocasião. Se calhar temos é que nos habituar a pôr menos no prato e se estas quiserem mais, repetem.
Vacinas – acho bastante assustadora esta corrente que pelos vistos tem ganho muitos adeptos de que as vacinas fazem mal e não devem ser tomadas. É possível que alguns efeitos negativos existam. Mas são algo já de tão, tão, mas tão testado, que se houvesse algum efeito verdadeiramente mau e claro este já tinha sido detectado. Como é evidente, as vacinas mais recentes – algumas até não incluídas no Plano Nacional de Vacinação – são bastante menos testadas. Mas a esmagadora maioria são-no, e ao recusar-se a vacinação está-se realmente a pôr em perigo a saúde da criança, mas também a de quem a rodeia – basta ver o comentário relativo ao aumento da taxa de sarampo citada pelo entrevistado. E o sarampo pode ser uma doença bem perigosa (e até mortal), que pode deixar marcas para a vida.
Enfim, é bom de vez em quando ver escrito algo que vem de encontro ao que pensamos.
http://www.paisefilhos.pt/index.php/destaque/6496-o-cuidado-dos-bebes-esta-muito-medicalizado
Por acaso acho que o título nem está muito bem posto, apesar de provavelmente ser verdade. Isto porque uma série de aspectos que ele foca também podem (e frequentemente são) correctamente transmitidos por um pediatra e, aliás, ele próprio é pediatra.
O artigo foca as 3 coisas do título sobre as quais sempre tive a opinião que este partilha.
Mimo – bem, o mimo pode ser muitas coisas. A parte negativa do mimo será no caso das crianças que obtêm tudo o que pedem (pensando num conceito material, sobretudo; porque não hão-de ter um abraço ou um beijo sempre que o pedem??) Mas o mimo é sobretudo o carinho e atenção; e carinho a mais nunca fez mal a ninguém, muito pelo contrário. Claro que do meu ponto de vista ser carinhoso por vezes é contrariar carinhosamente. Mas enfim, acho que o termo mimo ficou com uma fama muito indesejável, que não faz jus à palavra no seu significado real.
Alimentação – nunca fui apologista de obrigar as crianças a “limpar” o prato – e sempre ouvi muitas opiniões contrárias, e até críticas, por não ser apologista disso. Acho, como diz o entrevistado, que é uma violência obrigar a comer. Para mim é – ter que comer sem ter fome é terrível. Se houver boas regras de alimentação, não é nenhum drama que a criança não coma tudo – nem implica desperdício, pode-se (quase) sempre guardar para próxima ocasião. Se calhar temos é que nos habituar a pôr menos no prato e se estas quiserem mais, repetem.
Vacinas – acho bastante assustadora esta corrente que pelos vistos tem ganho muitos adeptos de que as vacinas fazem mal e não devem ser tomadas. É possível que alguns efeitos negativos existam. Mas são algo já de tão, tão, mas tão testado, que se houvesse algum efeito verdadeiramente mau e claro este já tinha sido detectado. Como é evidente, as vacinas mais recentes – algumas até não incluídas no Plano Nacional de Vacinação – são bastante menos testadas. Mas a esmagadora maioria são-no, e ao recusar-se a vacinação está-se realmente a pôr em perigo a saúde da criança, mas também a de quem a rodeia – basta ver o comentário relativo ao aumento da taxa de sarampo citada pelo entrevistado. E o sarampo pode ser uma doença bem perigosa (e até mortal), que pode deixar marcas para a vida.
Enfim, é bom de vez em quando ver escrito algo que vem de encontro ao que pensamos.
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