Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

domingo, 30 de junho de 2013

Estreias do ano, estreias de sempre

Primeiro banho de mar do ano. A praia de Santa Cruz estava fantástica, calor q.b., como nunca a tinha visto, eu, visitante regular embora não demasiado habitual, com uma ligeiríssima brisa, muito agradável. Água de um frio siberiano, mas mergulho cumprido.

sábado, 29 de junho de 2013

Noites algarvias

As noites algarvias estão tresloucadas e mudaram-se de lá de baixo para todo o lado. Eu que sou filha de gentes da zona centro e centro-sul e que talvez por isso acho que as pessoas do norte e do sul não são tão diferentes como por vezes tanto se apregoa, confesso que o Algarve é uma região que me é muito querida. Não tem tanto a ver com as praias, coitadas, na maioria tão estragadas. Tem a ver com as cores, com os cheiros, com as lindíssimas paisagens da serra e do barrocal e, claro, em época "baixa" e nos sítios menos estragados, com aquele mar morno e tão bom, mais a areia fininha que parece farinha nos pés. E tem também aquelas noites fantásticas, em que dir-se-ia que nos tornamos etéreos pela curiosa sensação de temperatura igual dentro e fora do corpo. Pois estas noites andam desorientadas e aparecem agora por todo o lado, mas mesmo assim falta o cheiro do sul e o coro furioso das cigarras. Ainda assim, algarvias o suficiente para despertarem muitas saudades.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Momentos XIX

-Hoje fizeste uma coisa muito gira, futebolista!
Futebolista: - É verdade. Foi a minha melhor obra...
...em lego.
[jardim zoológico de lego com portão de entrada, locais próprios para ursos polares, pinguins, hipopótamos e elefantes. Arquitectura/Desig/Construção: Futebolista]

sábado, 22 de junho de 2013

Momentos XVIII

Reunião da escola do ursinho.
-Fizémos uma actividade em que entrava uma bruxa, de uma história, pelo Haloween, também para desmistificar às vezes medos que eles têm destes personagens. Provavelmente nessa altura ouviram falar de bruxas lá em casa.
Sim, efectivamente, deve ter sido a partir dessa altura que ele me começou a chamar bruxa... :P

A genética, a cultura e o destino

Há pouco tempo dei por mim em blogue alheio a defender com unhas e dentes a influência da genética naquilo que somos e nos nossos actos.
A discussão da magnitude da influência da genética versus cultura/ambiente é uma discussão de longa data no seu meio específico. Lá que os genes estão cá, em cada uma das nossas pequenas células, isso é garantido; a cultura e o ambiente neutralizá-los-ão por completo, de forma que duas pessoas geneticamente idênticas sujeitas a ambiente/cultura diferentes serão diametralmente opostas?
Acredito que não sejam diametralmente opostas, mas poderão ser muito diferentes, sem dúvida.
Uma questão diferente, mas que acaba por bater na mesma tecla é: temos de facto uma série de instintos inscritos nos nossos genes, como um instinto de maternidade (que poderá ter as mais diversas formas), no fim de contas é a vivência que molda as nossas reacções, mesmo as mais instintivas?
Obviamente estas nunca serão respostas de preto-e-branco. Nos últimos anos têm vindo a lume questões muito interessantes, como a diferença no desenvolvimento fisiológico e neurológico de rapazes e raparigas. De uma forma muito simplista, e em geral, aqui podemos dizer que há muito boas pistas para afirmar que sim, está nalgum lado inscrito que eles por serem rapazes gostam mais de carrinhos e elas por serem meninas gostam mais de bebés e bonecas. Ou de outra forma, eles têm um desenvolvimento físico/psicológico que os torna em geral mais aptos e interessados em movimento e mecânica e a elas nos temas de interacção social. Friso, em geral.
Curiosamente, dei por mim a acreditar muito mais na influência da genética depois de ter sido mãe. Por ver neles comportamentos que não lhes foram ensinados pelos pais (nem por outros); por assistir ao diferente desenvolvimento de meninas e meninos; e por verificar que em fases tão, tão prematuras, há já traços de personalidade tão vincados.
Será que esta "crença" na genética pode ser comparada a outra forma de acreditar no destino? O que é algo de completamente contraditório para mim, firme crente que o futuro-é-aquilo-que-eu-fizer-dele. Mas no fim de contas, qual será a real magnitude desta bagagem que trazemos connosco à nascença? Serei afinal uma parcial crente no destino (genético), vestida com outras roupagens?

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Eu anfíbia me confesso

Futebolista: Os anfíbios dividem-se em três grupos, as cecílias; as rãs e os sapos; e as salamandras e trintões. (pausa) ah! Tritões!

sábado, 15 de junho de 2013

Momentos XVII

Ursinho:-Mamã, quero ver este filme!
Flaminga:-Eu sei pôr. (Pausa). Mas não ponho.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Final de ano lectivo

Cá em casa e para já só para o futebolista, que fez um bom campeonato da 2ª classe e tem lugar marcado na 3ª. Para além das muitas coisas que aprendeu houve uma que eu gostei particularmente (e me sossegou, reconheço) que foi a descoberta do gosto de ler.
Estes momentos são sempre um marco e ocasião para balanços. Está crescido, o futebolista. Com menos insistências infantis, mais compreensão e tolerância. Mais atento ao que se passa no mundo e ao seu redor. Mais independente e mais seguro. Mais irmão mais velho e mais filho mais velho.
A flaminga e o ursinho também passaram obviamente para outra etapa. Ela passou a barreira de criança pequena e ele está a deixar de ser bebé.
Nostalgia? Talvez um pouco, lá no fundinho. Mas mais que nostálgica, ansiosa por estas novas fases e novas vivências. Também eu aprendi com a minha mãe que todas as idades têm os seus encantos; a minha e a deles.

O hobbit

Assim de repente só me ocorre dizer que o Bilbo Baggins tem muito mais vocação para estas lides que o Frodo...

domingo, 9 de junho de 2013

Não há aniversário como o terceiro ou o princípio da consciência do "eu"

Voltando ainda aos 3 anos do ursinho, este aniversário foi realmente especial, porque foi a primeira vez que ele se apercebeu que estava a fazer anos. Claro que não terá entendido que fazia 3 anos que ele tinha nascido e que a comemoração era disso mesmo, mas foi claro para ele que ali ele comemorava ele próprio e que era o dia dele. Nesse sentido, tudo foi uma surpresa, com um enorme entusiasmo por todos que lá estavam, amigos e família, e com as ofertas que ele recebia cada uma como se fosse a primeira (ou quase, quando se começaram a multiplicar ou ele estava muito ocupado com outra o entusiasmo era menor, mas com os anos que já tenho disto diria que o nível e entusiasmo estava no máximo ou muito perto disso).
De tal forma que quando começou a chegar o bolo à mesa e a acenderem-se as velas, o ursinho não é cá rapaz de cerimónias e decide ele próprio dar o mote e começar ele próprio a cantar os parabéns, "obrigando" todos os presentes a segui-lo no timing que ele decidiu.
De certa forma foi também a despedida da primeira infância, da tal que não deixa memórias identificáveis pelo próprio. Uma vez disseram-me que a diferença entre uma mãe de três filhos e uma de dois é que a primeira não fica com saudades/desejos de ter mais um filho, mais um bebé. Suponho que haja muita variabilidade no sentimento, mas eu concordo. Aliás, é uma situação que personifica bem a diferença que eu defino entre saudade e nostalgia: saudade é algo que queremos que volte, nostalgia é recordar às vezes com uma pontinha de tristeza, outros tempos que foram bons. E palpita-me que estas primeiras infâncias me trarão a dada altura essa mesma nostalgia. Mas a saudade não - há tempos para tudo, e eu definitivamente passei o tempo dos (meus) bebés e passei ao tempo [apenas] das crianças.
Ursinho, é verdade que foi o teu terceiro aniversário, mas para ti mesmo foi como se fosse o primeiro. Ou então uma grande festa de boas-vindas. Bem-vindo, ursinho, todos os dias!

Momentos XVI

Eu (para o futebolista): quando o pai está fora tu és o meu grande ajudante!
Futebolista: quando o pai está fora eu sou o sub-pai.

domingo, 2 de junho de 2013

Junho

Eu adoro o mês de Junho. Não há uma razão muito lógica para isso. Também gosto muito de Maio, porque a maior parte dos elementos da minha família faz anos nesse mês e porque é habitual ser um bonito mês de Primavera. Mas sobretudo a primeira razão é muito objectiva.
Quanto a Junho, é difícil dizer o porquê desta preferência. É o mês que para mim vem matar as saudades de tudo o que o verão traz de bom. Com alguma sorte, é o mês das primeiras noites mornas e tão especiais. É o mês das sardinhas assadas e dos santos populares a lembrar tradições mais longínquas que a existência deste país. Pode ser mês de grandes picos de calor (geralmente, felizmente, passageiros). É o mês das cerejas. É geralmente o mês das primeiras idas à praia. É o mês que inaugura a inquietação da antecipação das férias. É um mês imprevisível, intenso, pleno. É um mês que nos faz lembrar as coisas boas que devemos(!) gozar.

sábado, 1 de junho de 2013

De onde menos se espera...

(ou de quem menos se espera)... se ouve uma frase que nos faz pensar.
Fazendo zapping passei num programa dos "nossos" filósofos do futebol e estavam em amena cavaqueira um fulano do CDS que já foi Ministro do Turismo(? seria assim que se chamava o Ministério mesmo?), o Toni (treinador) e o Abel Xavier.
Acho que não serei classificada como preconceituosa se disser que foram raras as vezes que frases ou ditos no meio futebolístico me ocuparam o cérebro pouco mais que alguns segundos.
Mas eis que da boca do Abel Xavier sai uma frase que me deixou a pensar e ainda me faz pensar (será mesmo dele a frase): "Os líderes com convicções nunca são consensuais."
Acho que se pode generalizar para "As pessoas com convicções nunca são consensuais". Nunca tinha pensado muito nisto, mas faz imenso sentido. 

Momentos XV

-Então, ursinho, o que fizeste hoje na escola?
-Birra.

Três anos

E chegou aos 3 anos ontem o meu ursinho, em dia de grande animação, já que coincidiu também com as comemorações do dia da criança na escola e mais tarde, claro está, houve comemoração familiar.
Tal como na altura comentei em relação ao futebolista, cada um dos meus filhos me trouxe um importante e estrutural ensinamento, estrutural porque cada qual de sua forma alterou a minha forma de viver a vida e olhar o mundo.
A sequência lógica destes ensinamentos é a própria sequência cronológica dos miúdos, mas como a flaminga só no verão fará anos, deixo o seu ensinamento para essa altura.
O ursinho trouxe-me porventura o mais intenso ensinamento, com alguma dureza, diga-se. Na verdade, podem-se dividir em dois: o primeiro, é que na vida as coisas nem sempre correm de acordo com os nossos planos, mas, na realidade, isso pode ser bom, ou tornar-se bom. Isto pode parecer óbvio para muitos, mas para mim, que tenho intrínseco o planeamento, não era. Mesmo tendo em mim um espírito que necessita o quebrar de rotinas e por vezes mesmo de fracturas que entendo necessárias, e algum espírito de aventura que mesmo quando está um pouco adormecido, está cá, tudo isto é acompanhado de constante cálculo de riscos e benefícios. Cada qual com os seus hábitos excêntricos, enfim.
O outro grande ensinamento é que ele me fez ver que a minha pessoa também tem que ter (mais) existência para lá de todas as exigências da maternidade e outras. E que devia subir uns degrauzinhos na escala das prioridades. Pode parecer paradoxal, mas estou plenamente convicta que, feitas as contas, isso é melhor para eles também. O caminho que me levou até aí foi o de tomar consciência que tinha que reconhecer e acautelar os meus próprios limites. Sim, porque até lá para mim não havia limites. De nada. De cansaço, de quantidade e tipo de coisas que podia ou queria fazer. Tudo sempre se podia arrumar. Mas isso não é assim. E quem vejo fazer tudo e mais alguma coisa, já não vejo só com admiração (ainda alguma, pois até certo ponto isso é uma virtude) mas com alguma sensação de que a história não está bem explicada - ao fazer tanta coisa, pelo caminho algumas deles não ficam, com toda a certeza, bem feitas. E isso faz toda a diferença.
Por tudo isto e muito mais, ursinho, um enorme obrigada por teres aparecido na minha e na nossa vida, o meu filho do extremo e de extremos: ou está esfuziante de contente ou está ruidosa e intensamente zangado, muita muita actividade, muitos saltos, muitas corridas, muitas gargalhadas de enorme sorriso aberto, muito afável para todos mas também com enorme facilidade em aplicar uma palmada em quem quer que seja se assim o entender. Contigo não há meias tintas e desde que chegaste foi com enorme determinação e sem sombra de hesitação que conquistaste o teu lugar numa família já com dois irmãos mais velhos. No meio de toda esta intensidade, a tua presença, a tua existência, preenche-me de uma enorme tranquilidade e realização. Parabéns, meu ursinho!