O cérebro humano ainda é um mistério. Quem se aventurou a
ler os livros do Manuel Damásio ficou com uma ideia um pouco mais clara da
dimensão desse desconhecimento.
E este é um facto que é fácil de detectar, embora muito
difícil de perceber. Quantos conselhos médicos não são um atirar no escuro?
Quantos fenómenos clínicos acontecem sem ninguém perceber porquê? Há tão pouco
tempo se localizavam, os sentimentos, no coração, e a alma… não sei bem onde! É
tudo no cérebro, mais sinapse, menos sinapse, aquilo que nos recordamos como
fazer, as nossas memórias, não são que mais caminhos que já percorremos no
nosso cérebro e que voltamos a fazer… lá está, viagens, uma vez mais…
As doenças psíquicas são reconhecidamente caminhos de
mistério dos quais aos poucos e poucos se vão obtendo mais umas migalhas de
conhecimento. Esta semana o Público noticiou um estudo que apresentava
evidências que os espermatozóides acumulavam progressivamente mutações ao longo
dos anos. Donde concluíram: pais mais velhos, filhos feitos com espermatozóides
com mais mutações. Sugeriam uma associação com doenças como o autismo e a
esquizofrenia. Acredito que possa acontecer, sim. E evolutivamente sempre tive
cá o feelingzinho que os pais muito velhos haviam de ter algum tipo de
desvantagem (biológica). Cá estão elas a emergir…
Houve um filme que me marcou imenso nesta temática dos
mistérios insondáveis do cérebro. Uma mente brilhante. Tive que o ver algumas
vezes para ele chegar cá fundo. Mas chegou. Como é que um homem, um matemático
absolutamente genial, cria um mundo paralelo que é onde vive, povoado de
personagens reais (para ele), feito de uma lógica real (para ele). Como é que
sobreviveu aos tratamentos absolutamente bárbaros da altura e conseguiu
controlar (atenção controlar e não curar) o seu problema. E como depois de tudo
isso estabeleceu uma teoria matemática genial e acabou por ganhar o prémio
nobel. E como teve ao lado dele uma mulher que o ajudou a superar algo tão
avassalador e, ainda por cima, na altura muito mais desconhecido.
Tirei do filme um ensinamento fundamental: cada um de nós tem
a sua própria realidade; e esta pode, no fundo, não ser real. Há quem chore ao
ver o Campeão ou o África Minha. Mas este para mim foi um filme absolutamente
comovente. Não sei a quantidade de fantasia de Hollywood que lá está; mas mesmo
os poucos factos reais do fim do filme são para mim suficientes para encarar
essa pessoa com um respeito imenso. Porque é preciso uma enorme coragem para
travar as guerras interiores; é a mais solitária das viagens.
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