Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Viagens ao mistério da mente humana


O cérebro humano ainda é um mistério. Quem se aventurou a ler os livros do Manuel Damásio ficou com uma ideia um pouco mais clara da dimensão desse desconhecimento.
E este é um facto que é fácil de detectar, embora muito difícil de perceber. Quantos conselhos médicos não são um atirar no escuro? Quantos fenómenos clínicos acontecem sem ninguém perceber porquê? Há tão pouco tempo se localizavam, os sentimentos, no coração, e a alma… não sei bem onde! É tudo no cérebro, mais sinapse, menos sinapse, aquilo que nos recordamos como fazer, as nossas memórias, não são que mais caminhos que já percorremos no nosso cérebro e que voltamos a fazer… lá está, viagens, uma vez mais…
As doenças psíquicas são reconhecidamente caminhos de mistério dos quais aos poucos e poucos se vão obtendo mais umas migalhas de conhecimento. Esta semana o Público noticiou um estudo que apresentava evidências que os espermatozóides acumulavam progressivamente mutações ao longo dos anos. Donde concluíram: pais mais velhos, filhos feitos com espermatozóides com mais mutações. Sugeriam uma associação com doenças como o autismo e a esquizofrenia. Acredito que possa acontecer, sim. E evolutivamente sempre tive cá o feelingzinho que os pais muito velhos haviam de ter algum tipo de desvantagem (biológica). Cá estão elas a emergir…
Houve um filme que me marcou imenso nesta temática dos mistérios insondáveis do cérebro. Uma mente brilhante. Tive que o ver algumas vezes para ele chegar cá fundo. Mas chegou. Como é que um homem, um matemático absolutamente genial, cria um mundo paralelo que é onde vive, povoado de personagens reais (para ele), feito de uma lógica real (para ele). Como é que sobreviveu aos tratamentos absolutamente bárbaros da altura e conseguiu controlar (atenção controlar e não curar) o seu problema. E como depois de tudo isso estabeleceu uma teoria matemática genial e acabou por ganhar o prémio nobel. E como teve ao lado dele uma mulher que o ajudou a superar algo tão avassalador e, ainda por cima, na altura muito mais desconhecido.
Tirei do filme um ensinamento fundamental: cada um de nós tem a sua própria realidade; e esta pode, no fundo, não ser real. Há quem chore ao ver o Campeão ou o África Minha. Mas este para mim foi um filme absolutamente comovente. Não sei a quantidade de fantasia de Hollywood que lá está; mas mesmo os poucos factos reais do fim do filme são para mim suficientes para encarar essa pessoa com um respeito imenso. Porque é preciso uma enorme coragem para travar as guerras interiores; é a mais solitária das viagens.

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